Vivência da Felicidade
Normalmente a felicidade é considerada como sendo falta de sofrimento, ausência de problemas e de preocupações. O conceito, no entanto, é cedido, destituído de legitimidade, porque se pode experimentar bem-estar, felicidade, portanto, em situações de dor, assim como diante de problemas e de desafios. A felicidade é um estado emocional interior, no qual, as questões externas, quando negativas, não conseguem modificar o sentimento de harmonia.
Da mesma forma, acontecimentos e circunstâncias perturbadoras são incapazes de lhe alterar a magnitude, porque podem ser administrados e conduzidos a resultados edificantes.
Sempre se considera a infelicidade como sendo a má sorte, a debilidade orgânica, a presença de enfermidades, os problemas financeiros e emocionais, a solidão e a insegurança, deixando transparecer que a felicidade seria o oposto.
Nada obstante, podemos considerar a felicidade como resultado de pensamentos corretos, de atos honestos e de sentimentos enobrecidos.
Caso as ocorrências não sejam benéficas, propiciando prazer e poder, isso, de maneira alguma, pode ser considerado como desgraça, dependendo, naturalmente, da maneira como sejam encaradas. Invariavelmente, a situação deplorável de hoje, se bem administrada, transforma-se em dádiva de engrandecimento interior e de compreensão dos acontecimentos existenciais, mais tarde, favorecendo a conquista da felicidade.
Para o asceta, o mártir, o idealista, quanto mais enfrentam dificuldades melhores se sentem, agradecendo à vida as aflições que os elevam, que os ajudam a concretizar os objetivos que abraçam e os santificam. No entanto, para o indivíduo comum, as sensações bem atendidas, o confronto, a conquista de valores amoedados, e experimentar de prazeres contínuos, são fenômenos que se convertem em expressões de felicidade.
A felicidade não está adstrita a determinados padrões, de maneira que seja a mesma para todos os indivíduos. Estando as pessoas estagiando em diferentes níveis de consciência e conhecimento, suas aspirações diversificam-se, apresentando-se em tonalidades mui especiais, representativas de cada qual. Desse modo, o conceito de felicidade na vivência normal e comum é muito diferente, em relação aos seres humanos, apresentando-se com características próprias, referentes ao estágio e qualidade da emoção de cada um.
O véu que oculta o discernimento da felicidade real é colocado pelo ego, na sua feição imediatista, vinculado aos interesses pessoais e movimentando-se em torno deles, o que não corresponde à realidade dos valores que tipificam o estado de harmonia real, de plenitude. É provável que a felicidade para muitos não seja mais do que algumas alegrias derivadas das ambições que se fizeram palpáveis, após algum esforço por conseguí-las. Para outros, podem ser as satisfações hedonistas, em que o gozo foi transformado em finalidade primordial da existência, embora fugidio e cansativo.
A felicidade, porém, não se afirma como sendo o trânsito fácil pelos altibaixos da experiência carnal, tornando-se necessário que sejam eliminados os tóxicos mentais e a ignorância em torno das leis de solidariedade e de compaixão, que devem ser vivenciadas no íntimo, de forma a melhor compreender-se o sentido psicológico do existir.
O discernimento a respeito dos significados da existência terrestre, proporcionam uma visão ampla e sem falhas da felicidade em toda a sua magnitude, por facultar a compreensão das ocorrências durante a vilegiatura humana.
É provável que uma calúnia e uma inimizade que aparecem inesperadamente tisnem o estado de paz de alguém, atirando-o ao desespero, ao desejo de desforço, à demonstração de inocência… Esse momentâneo adversário que gera revolta e estimula sentimentos de vingança, inspira animosidade, passando a ser detestado. No entanto, em seu comportamento normal, é gentil com outras pessoas, granjeando simpatia e afeição, confirmando que a óptica pela qual é observado tem desvios de apresentação conforme cada observador.
Entender a situação de outrem, suas dificuldades emocionais e problemas de relacionamento, especialmente em relação a si mesmo, constitui um modelo de auto-preservação de decepções e de conflitos na área do comportamento social. Não se pode esperar que todas as criaturas reajam da mesma forma nos relacionamentos humanos, elegendo uns amigos em detrimento de outros, o que produz aceitação e rejeição.
Quando se tem a capacidade de desculpar, não se perturbando ante os acontecimentos desagradáveis do processo de convivência com os demais, trilha-se com segurança o roteiro que leva à harmonia, que predispõe à felicidade.
Uma das razões dominantes para a presença da infelicidade, é a ambição desmedida, que confunde o ter com o ser, o poder com o realizar-se.
A educação social na Terra, infelizmente, ainda tem a predominância pela exaltação do mais forte, pelo triunfo do mais rico ou mais belo, pela coragem do mais hábil na arte de projetar a imagem, estabelecendo a felicidade como sendo a glória externa, o brilho fácil nas rodas socioeconômicas dominantes… Como efeito, quando não se conseguem esses padrões de falsa felicidade, pensa-se em desdita, em fracasso.
Não é raro encontrar-se pessoas ricas e que alcançaram o topo, invejadas e copiadas, cercadas de fãs ardorosos e perseguidos pelo noticiário da frivolidade, que lamentam interiormente a fama e o alto escalão em que se deparam nos círculos em que se movimentam. Esse triunfo constitui-lhes verdadeiro suplício, enquanto um incontável número que se encontra no anonimato, ama a existência e com ela se compraz, muitas vezes enfrentando carências e dificuldades.
A verdadeira educação deve ter como meta formar cidadãos, criar condições dignificadoras para o indivíduo, fortalecimento dos valores ético-morais, porque os padrões exteriores mudam de situação a cada momento, enquanto os de natureza íntima permanecem como diretrizes de sabedoria geradora de paz interior.
Em geral, o sofrimento apresenta-se em todos os setores humanos como desdita ou infortúnio.
Considerando-se, porém, que é inevitável, que sempre surgirá momento em que se apresentará, em razão da circunstância em que o Espírito evolui, ainda apegado aos débitos de ontem como às intercorrências desequilibradoras de hoje, o recurso precioso para o enfrentamento é a constatação da transitoriedade do mesmo, em face da maneira como deve ser encarado, dando-lhe qualidades positivas de aperfeiçoamento moral, de metodologia que leva à auto-reflexão, ao aprimoramento interior.
A felicidade, desse modo, não é a falta de sofrimento…
Pode-se ser feliz embora com algum sofrimento, que não descaracteriza o bem-estar e a alegria de viver, propiciadores do estado pleno.
A felicidade real tem muito a ver com a felicidade que produz em torno, com aquela que diz respeito aos outros.
A chave para ser viabilizada está no amor a si mesmo e ao próximo, nessa deferência que deve ser dedicada ao esforço de auto-aprimoramento, de elevação de qualidades morais, de significados emocionados, tendo em vista as demais criaturas. Quem apenas se ama, sem tempo de ampliar o círculo da afetividade com os outros, sofre de miopia moral e, no seu egotismo, perde o sentido existencial.
Somente quando se ama aos demais caminhantes da estrada da evolução, é que se desenvolve os sentimentos de nobreza, espe
cialmente os de compaixão, de misericórdia, de solidariedade e caridade no seu sentido mais elevado. Nesse amor que se expande, absorve-se a harmonia e a certeza de que após a transição do corpo pelo fenômeno da morte biológica, haverá o despertamento do Espírito em forma de consciência livre de culpa, em estado de real felicidade.
JOANA DE ÂNGELIS, (Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 20 de janeiro de 2009, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA).
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Fonte:
http://www.opovo.com.br/opovo/espiritualidade/862709.html
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