Lan house

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Banda larga de pobre se chama lan house

A inclusão digital é um processo sem nenhum incentivo do governo; é preciso tirar as lan houses da informalidade

A UNIVERSALIZAÇÃO do acesso à banda larga transformou-se na última grande bandeira social do presidente Lula. Mas as próprias estimativas oficiais indicam que, para a ideia sair do papel, seriam necessários pelo menos 5 anos e, no mínimo, R$ 180 bilhões.
Para se ter, na prática, o acesso dos mais pobres a uma conexão veloz de internet, bastaria investir na rede de lan houses espalhada pelo país. Com muito menos dinheiro -aliás, com apenas uma pequena parcela daquela cifra bilionária- seria possível ampliar a rede, tirá-la da informalidade e sofisticá-la imediatamente.

São 108 mil lan houses e, só para dar uma medida de comparação, temos, em todo o país, menos de 20 mil agências bancárias.
Por essa rede, instalada nas periferias e nos bairros mais pobres, circulam 31 milhões de pessoas, o que representa, segundo o Ibope, 48% de todos os brasileiros que acessam a internet.
Do total de frequentadores das lan houses, 24 milhões são das classes C, D e E. É um espaço, como todos sabem, onde imperam os mais jovens. De cada dez adolescentes entre 10 a 15 anos, seis passam por lá.
A tradução é a seguinte: a inclusão digital no Brasil é um processo clandestino, sem nenhum incentivo do governo. Banda larga de pobre se chama lan house.

A imagem do negócio das lan houses é, no geral, ruim. Pais e educadores acreditam (e com boa dose de razão) que os jovens ficam nas lan houses jogando dinheiro fora em jogos, conversas em chats ou visitas a sites pornográficos.
Mas começa um movimento -que envolve as mais diferentes entidades e que tem ramificações no Congresso- para que o governo ofereça pacotes de incentivo para o mercado de lan houses. A contrapartida seria a exigência de um código de conduta, como, por exemplo, um filtro contra pornografia.
Pipocam aqui e ali experiências interessantes. Em algumas cidades, criou-se um vale-internet para estudantes -isso se houver na lan house a presença de um professor que tem como missão ajudar os alunos.
Na periferia de cidades do Nordeste, a prefeitura fez desses espaços um centro de atendimento da população -em Salvador, é possível iniciar ali o processo de alvará.
Já existe uma série de serviços oferecidos em lan houses: venda de crédito para celular, fax, gráfica, fotocópia, manutenção de computador. Existe até venda de passagem aérea.

Segundo propostas que tramitam no Congresso, um dos incentivos seria pagar os donos dos estabelecimentos se funcionarem também como uma espécie de “Poupatempo”, o que aproximará o poder público do cidadão.
Discute-se a criação de um vale-internet, assim como se criou o vale-cultura. Há quem proponha que as lan houses não precisariam pagar pelas conexões, a serem bancadas pelos governos -existe um bilionário fundo para a democratização da informática (Fust), que já arrecadou R$ 8 bilhões e, por falta de regulamentação, não usou um único centavo.

A proposta mais interessante partiu da TV Cultura, que arregimentou parceiros de peso como o Comitê Gestor da Internet, Sesc, Senac, Itaú Cultural, Secretaria de Gestão do Estado de São Paulo, Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital, entre outros.
O que se pretende é colocar na barra de favoritos dos computadores das lan houses um botão que conduza a cursos profissionalizantes, programas educativos e cultura de qualidade. Quanto mais o botão fosse acionado, haveria mais prêmios para a casa.
Jovens seriam capacitados para o uso desses recursos e se tornariam monitores. Na cidade de São Paulo, a prefeitura criou um curso para a formação de agentes comunitários de comunicação. Tenho acompanhado a formação desses jovens de periferia que, em pouco tempo, aprendem como ensinar a usar melhor a internet.

Não estou defendendo aqui que não se amplie o acesso à internet. Só estou alertando para o desperdício -a grande praga do setor público.
Nessa área, o desperdício tem sido a regra, a começar com o Fust e seus R$ 8 bilhões parados. Pesquisas têm demonstrado que o computador nas escolas não está alterando o desempenho dos alunos -isso, claro, por falta de capacitação dos professores. Afinal, é mais fácil comprar máquinas que formar pessoas.

Tirar as lan houses da informalidade e transformá-las em centros comunitários digitais -e até em extensão das escolas- pode não ter o mesmo impacto de marketing que prometer a banda larga na casa das pessoas. No entanto, consegue, com rapidez e baixo custo, incluir mais pessoas na era do conhecimento, aproveitando toda a infraestrutura instalada.

PS- Coloquei no site, www.dimenstein.com.br, textos que detalham o perfil das lan houses no Brasil.
GILBERTO DIMENSTEIN
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Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2911200909.htm
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Publicado em: SinapsesLinks
http://sinapseslinks.blogspot.com/
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