Matadouros
Empresa suíça que oferece suicídio assistido choca pela natureza industrial
SOU contra a pena de morte. Não interessa se a pessoa a merece. Ou se a solicita. Matar é matar. Excluindo casos de autodefesa, que não entram na categoria, penas capitais são homicídios voluntários.
Ludwig Minelli discorda. Quem é Minelli? Segundo a última edição da revista americana “The Atlantic”, que dedica ao homem artigo notável e arrepiante, é fundador da polêmica Dignitas, empresa suíça que permite uma morte eficaz a quem não tem uma vida plena. Ou, no mínimo, perspectivas de uma vida plena.
Até o momento, foram mil os clientes da Dignitas que entraram pelo próprio pé e saíram entre quatro tábuas, ou reduzidas a uma urna de cinzas. Existem 6.000 na lista para limpeza futura. E o sonho de Minelli, se “sonho” é a palavra certa para aspiração tão macabra, é poder um dia aplicar o tratamento a qualquer pessoa que o deseje, doente ou não. Nas palavras de Minelli, o suicídio é “o último direito humano”.
Verdade que a Suíça não está isolada na lista dos países onde o suicídio assistido é legal. Na Holanda, na Bélgica, no Luxemburgo e em certos Estados americanos, como em Wa- shington ou Montana, doentes terminais podem apressar o fim. Mas a Suíça é mais “liberal” na prática; e a Dignitas é o símbolo dessa liberalidade, aceitando clientes de todo o mundo que viajam para Zurique em busca de uma saída. “Turismo suicida”, eis o nome do fluxo. Que nome.
O artigo não tece nenhum julgamento sobre as práticas de Minelli. A lei permite. Cumpra-se a lei. Mas, lendo as descrições do negócio, é difícil não sentir um arrepio de horror pela espinha abaixo.
O horror começa na natureza “industrial” das matanças. O cliente chega. É instalado em quarto da empresa. No dia combinado, e na hora estabelecida, é levado para uma divisão apropriada, onde recebe uma mistura química que vai neutralizando os seus sinais vitais.
Finalmente morto, o corpo é removido. Conta Minelli que, antes da Dignitas ter instalações mais apropriadas, longe da vista comum, o cortejo de corpos provocava indignação entre as vizinhanças burguesas. Imagino.
Depois de removidos, os corpos são levados para os fornos crematórios. Onde eu já ouvi isso? Aliás, as ressonâncias do cenário não ficam pelos fornos. Também se aplicam ao método. Na Suíça, existem quatro grandes empresas que operam no negócio da morte. E todas elas usam pentobarbital sódico, uma combinação poderosa que permite uma morte “limpa” e “indolor”.
Infelizmente para Minelli, os médicos não são generosos na prescrição do pentobarbital, e a maioria desaprova os entusiasmos mórbidos da Dignitas. Minelli tem procurado outros meios para os mesmos fins.
Nos últimos tempos, tem gaseado os clientes. O espetáculo, admite o próprio, não é bonito de ver. Um corpo moribundo, perpassado por violentos espasmos, nunca é bonito de ver. Mas, garante Minelli, não há qualquer dor no processo.
Acredito. Mas a dor não é apenas uma questão física; também existe uma dor moral que parece ausente da consciência do homem. Minelli e seus cúmplices aproximam-se da morte, e da eliminação física de seres humanos, com a mesma naturalidade mecânica que podemos observar nos matadouros. A lei permite? Sem dúvida.
Mas essa espécie de positivismo ético não nos leva longe: uma história da legislação humana, ao longo dos tempos, seria sempre uma história de brutalidades abençoadas pelos códigos. O negócio de Minelli suplanta os códigos e lida com a pergunta última da nossa condição: seremos apenas meros animais para abate quando a doença nos visita?
JOÃO PEREIRA COUTINHO
jpcoutinho@folha.com.br
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Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1602201017.htm
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Publicado em: SinapsesLinks
http://sinapseslinks.blogspot.com/
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Isto prova quanto a nossa humanidade é tacanha no que concerne aos mais baixos sentimentos pela vida de seus irmãos na carne. O dinheiro, enceguece as pessoas como se ele fosse o metal que na hora H, vai salvar estas pessoas do seu fim tétrico. É muito triste a gente ter esta certeza de como a nossa humanidade ainda não saiu do seu estado de mineral bruto que nada sente, que nada o afete no que concerne ao sentimento que é um dos mais belos aparatos que Deus nos outorgou. A indústria do ganho está bilhões de quilômetros à frente da generosidade e do respeito pelo Criador que nos deixou a vida como o maior legado já propiciado nesta Terra. E, como as pessoas também que se submetem a esta tétrica manipulação estão muito aquém ainda do propósito de sua responsabilidade perante a vida que nos condiciona a certos estados para que evoluamos mais rapidamente apagando nossos carmas negativos passando pelas intempéries que nós mesmo criamos com nossas ações de outrora ou mesmo das atuais. São pessoas que não concebem e nem enxergam um palmo adiante de suas caminhadas para entender o porquê de estarmos aqui.!!!!!!! Realmente estou muito triste com esta nova postura de suicídio assistido e com a legalização da lei Eutanásia de outros países . Obrigada
Tereza