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UMBANDA
Eu não poderia prosseguir sem esclarecer aos leitores o que de fato é Umbanda.
Grande parte dos espíritas ainda mantém um certo preconceito com relação ao culto umbandista.
Penso que eles deveriam estudar e conhecer a Umbanda antes de opinarem ou escreverem bobagens a respeito.
Caboclo das Sete Encruzilhadas é a denominação da entidade espiritual que fundou a Umbanda.
Este fato ocorreu na sessão da Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro (então sediada em Niterói), a 15 de novembro de 1908, por intermédio da mediunidade de Zélio Fernandino de Moraes, no distrito de Neves, em São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro.
Naquela ocasião, tendo o dirigente determinado que Zélio ocupasse um dos lugares à mesa, em determinado momento dos trabalhos, tomado por uma força desconhecida e superior à sua vontade, contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer um dos integrantes da mesa, Zélio levantou-se e disse:
– Aqui está faltando uma flor!, retirando-se ato contínuo da sala. Retornou em poucos momentos, trazendo uma rosa, que depositou no centro da mesa. Esse gesto causou um princípio de polêmica entre os presentes.
Restabelecida a “corrente”, manifestaram-se, em vários dos médiuns presentes, espíritos que se identificaram como de indígenas ou caboclos e de escravos africanos. O dirigente dos trabalhos convidou esses espíritos a se retirar advertindo-os acerca do seu (deles) atraso espiritual.
De acordo com entrevista do próprio Zélio,(l) se momento ele sentiu-se novamente dominado pela estranha força, que fez com que ele falasse, sem saber o que dizia. Ouvia apenas a sua própria voz, perguntando o motivo que levava o dirigente dos trabalhos a não aceitar a comunicação daqueles espíritos, e porque eram considerados “atrasados” apenas pela diferença de cor ou de classe social que revelaram ter tido na última encarnação.
Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela mesa procuraram doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que estaria incorporado em Zélio, desenvolvendo uma sólida argumentação.
Um dos médiuns videntes perguntou então:
Afinal, por que o irmão fala nesses tennos, pretendendo que esta mesa aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encamados, são claramente atrasados? E qual é o seu nome, irmão?”
A resposta de Zélio, ainda tomado pela misteriosa força, foi:
– Sejulgam atrasados estes espíritos dos pretos e dos índios, devo dizer que amanhã estarei em casa deste aparelho (o médium Zélio), para dar início a um culto em que esses pretos e esses índios poderão dar a sua mensagem, e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encamados e desencarnados. E, se querem saber o meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim.
O médium vidente insistiu, com ironia:
-Julga o irmão que alguém irá assistir ao seu culto? ” Ao que a entidade respondeu:
– Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei!
Ainda de acordo com o relato de Zélio, no dia seguinte, a 16 de novembro, na residência de sua família, na rua Floriano Peixoto n o 30, em Neves, ao se aproximar a hora marcada, 20 horas, já ali se reuniam os membros da Federação Espírita, visando comprovar a veracidade do que havia sido declarado na véspera, alguns parentes mais chegados, amigos, vizinhos, e, do lado de fora da residência, grande número de desconhecidos.
Às 20 horas, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas, declarando que, naquele momento, se iniciava um novo culto em que os espíritos dos velhos africanos, que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos do Brasil poderiam trabalhar em beneficio dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A prática da caridade (amor fraterno), seria a tônica desse culto, que teria como base o Evangelho de Cristo e como mestre supremo, Jesus.
Após estabelecer as normas em que se processaria o culto, deu-lhe também o nome, anotado por um dos presentes como Alabanda, substituido por Aumbanda, que em sânscrito pode ser interpretada como “Deus ao nosso lado” ou “o lado de Deus”. O nome pelo qual se popularizaria, entretando, seria o de Umbanda.
Fundava-se, naquele momento, a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, assim denominada “porque assim como Maria acolhe ofilho nos braços, também seriam acolhidos, como filhos, todos os que necessitassem de ajuda ou conforto”.
Após responder, em latim e em alemão, às perguntas de sacerdotes ali presentes, o Caboclo passou à parte prática da sessão, promovendo a cura de enfermos e fazendo andar aleijados. Antes do término dos trabalhos, manifestou-se um preto velho, Pai Antônio, tendo este guia ditado o ponto hoje cantado em todo o Brasil:
“Chegou, chegou, chegou com Deus,
Chegou, chegou o Caboclo das Sete Encruzilhadas. “(2)
Estava fundada a Umbanda no Brasil.
Anos mais tarde o dia 15 de novembro seria considerado como Dia Nacional da Umbanda.
Dez anos mais tarde, o Caboclo das Sete Encruzilhadas declarou que iniciava a segunda parte de sua missão: a criação de sete templos que seriam o núcleo a partir do qual se propagaria a religião de Umbanda. A tarefa ficou completa com a fundação da Tenda São Jerônimo (a Casa de Xangô), em 1935.
Em 1939, o caboclo determinou que se fundasse a Federação Espírita de Umbanda, posteriormente denominada como União Espiritista de Umbanda do Brasil, visando atuar como núcleo central doutrinário e congregar os templos umbandistas.
A entidade trabalhou até meados da década de 1970, quando Zélio faleceu, aos oitenta e quatro anos de idade. Segundo Zilmeia de Moraes (filha de Zélio) após o seu falecimento, a entidade não mais se manifesta em terreiros, estando atualmente incumbido ape nas de zelar pela religião.
Na visão umbandista o caboclo foi, em uma das suas anteriores encarnações, o padre jesuíta Gabriel Malagrida.
Creio que a Umbanda contribuiu e muito para que a concepção da imortalidade da alma e do intercâmbio entre encarnados e desencarnados fosse propagada.
No início do século 20 somente pessoas de alta posição social tinham acesso as reuniões espíritas com raras exceções, mesmo porque a doutrina espírita é voltada a estudos aprofundados sobre a vida além da vida e naquele tempo o índice de analfabetismo no país era consideravelmente muito maior do que nos dias de hoje.
As pessoas mais simples preferiam frequentar os terreiros de umbanda já que se familiarizavam com o altar repleto dos santos venerados pela igreja católica, era muito comum as pessoas irem à missa aos domingos e as sextas feiras frequentarem um terreiro de umbanda.
Muitos espíritas e escritores expressivos no movimento espírita despertaram para os estudos da alma após terem frequentado sessões de umbanda.
Infelizmente em todos os seguimentos de natureza religiosa encontraremos maus exemplos que direta ou indiretamente deturpam qualquer instituição religiosa.
O importante é discernir e saber que o fato de existir o vinho falso não significa que não exista o vinho verdadeiro.
Cabe ao bom senso de cada pessoa que critique uma religião seja qual for estudá-la primeiro; buscar na fonte a realidade daqueles conceitos religiosos para então compreender que o problema não está nas religiões e sim em boa parte dos “religiosos”.
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(1)Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Caboclo das Sete- Encruzilhadas#cite_note-l
(2)Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Caboclo das
Sete_Encruzilhadas#cite_note
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