Cárita. (Lião, 1861.)
A beneficência (IV)
Várias maneiras há de fazer-se a caridade, que muitos dentre vós confundem com a esmola.
Diferença grande vai, no entanto, de uma para outra.
A esmola, meus amigos, é algumas vezes útil, porque dá alívio aos pobres; mas é quase sempre humilhante, tanto para o que a dá, como para o que a recebe.
A caridade, ao contrário, liga o benfeitor ao beneficiado e se disfarça de tantos modos!
Pode-se ser caridoso, mesmo com os parentes e com os amigos, sendo uns indulgentes para com os outros, perdoando-se mutuamente as fraquezas, cuidando não ferir o amor-próprio de ninguém.
Vós, espíritas, podeis sê-lo na vossa maneira de proceder para com os que não pensam como vós, induzindo os menos esclarecidos a crer, mas sem os chocar, sem investir contra as suas convicções e, sim, atraindo-os amavelmente às nossas reuniões, onde poderão ouvir-nos e onde saberemos descobrir nos seus corações a brecha para neles penetrarmos.
Eis aí um dos aspectos da caridade.
Escutai agora o que é a caridade para com os pobres, os deserdados deste mundo, mas recompensados de Deus, se aceitam sem queixumes as suas misérias, o que de vós depende.
Far-me-ei compreender por um exemplo.
Vejo, várias vezes, cada semana, uma reunião de senhoras, havendo-as de todas as idades.
Para nós, como sabeis, são todas irmãs.
Que fazem? Trabalham depressa, muito depressa; têm ágeis os dedos.
Vede como trazem alegres os semblantes e como lhes batem em uníssono os corações.
Mas, com que fim trabalham?
É que vêem aproximar-se o inverno que será rude para os lares pobres.
As formigas não puderam juntar durante o estio as provisões necessárias e a maior parte de suas utilidades está empenhada.
As pobres mães se inquietam e choram, pensando nos filhinhos que, durante a estação invernosa, sentirão frio e fome!
Tende paciência, infortunadas mulheres.
Deus inspirou a outras mais aquinhoadas do que vós; elas se reuniram e estão confeccionando roupinhas; depois, um destes dias, quando a terra se achar coberta de neve e vós vos lamentardes, dizendo: “Deus não é justo”, que é o que vos sai dos lábios sempre que sofreis, vereis surgir a filha de uma dessas boas trabalhadoras que se constituíram obreiras dos pobres, pois que é para vós que elas trabalham assim, e os vossos lamentos se mudarão em bênçãos, dado que no coração dos infelizes o a amor acompanha de bem perto o ódio.
Como essas trabalhadoras precisam de encorajamento, vejo chegarem-lhes de todos os lados as comunicações dos bons espíritos.
Os homens que fazem parte dessa sociedade lhes trazem também seu concurso, fazendo-lhes uma dessas leituras que agradam tanto.
E nós, para recompensarmos o zelo de todos e de cada um em particular, prometemos às laboriosas obreiras boa clientela, que lhes pagará à vista, em bênçãos, única moeda que tem curso no Céu, garantindo-lhes, além disso, sem receio de errar, que essa moeda não lhes faltará. —
Cárita. (Lião, 1861.)
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 14.)
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Publicado em: sab 08jan2022
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