UMA VISITA INESQUECÍVEL
Pelos idos dos anos 70 viajamos para a bela cidade de Uberaba para visitarmos o nosso querido Chico Xavier. Chegando na rua Eurípides Barsanulfo, embora ainda faltasse algum tempo para o inicio da reunião onde contaríamos com a presença do Grande Médium, já era intensa a movimentação em torno da Casa Espírita.
Mães, muitas delas carregando seus filhos ao colo, entravam pelo portão, para em seguida, acomodarem-se em torno de longa mesa tosca em busca da sopa reconfortante, cujos pratos, fumegantes, estavam sendo servidos por cerca de uma dezena de voluntários.
Algumas dessas mulheres carentes, ao mesmo tempo em que se alimentavam, procuravam amamentar seus rebentos. Essas criaturas, além de roupas e alimentos, recebiam assistência medica efetuada pelo Médico e Médium doutor Valdo Vieira. Ficamos emocionados com o trato carinhoso dispensado pelo companheiro do Chico, àquela verdadeira multidão de necessitados.
Valdo em pleno vigor da juventude, trazia no semblante sereno as marcas saudáveis e rubras do jovem que denotava usufruir os tempos felizes. Tal realidade não se dava somente no campo das aparências, pois nosso irmão durante os trabalhos da psicografia, em companhia do grande Chico, postava-se para a recepção das mensagens, lado a lado, ambos atuavam fazendo com que os lápis deslizassem com velocidade incrível sobre as alvas folhas de papeis. A igualdade e a grandeza do fenômeno não se davam apenas no campo das aparências, pois as belezas das mensagens eram tocantes e se confundiam.
O consultório onde Valdo prestava atendimento limitava-se a um cubículo, cuja porta era frontal à calçada, onde perfilavam crianças e adultos. A fila formada defronte o pequeno consultório estendia-se ao longo da murada e o mais impressionante é que muitos desses necessitados diziam-se forasteiros e que haviam empreendido longas caminhadas pela noite adentro até ali chegarem.
Aquela multidão de necessitados guardava profundo respeito pelos dois missionários. O que nos deixou emocionado foi o fato de constatar que os médiuns retribuíam cada vez que tinham suas mãos beijadas pelos maltrapilhos, abraçando-os fazendo festas, como se os tivessem reencontrado depois de muito tempo.
Convidado pelo Chico, para que lhe fizesse companhia, enquanto ele estivesse prestando atendimento Fraterno, as pessoas que compunham caravanas originárias dos diversos estados. Confesso que me enchi de importâncias, chegando a imaginar que ele assim procedia por necessitar que eu lhe desse “uma força”. Vejam até que ponto pode chegar a mísera pretensão humana.
Postei-me ao lado do grande Médium e ele iniciou o atendimento a aquela verdadeira multidão. Voltei-me para traz e constatei que não havia uma só cadeira. Como assim? Praticamente setecentas pessoas a serem ouvidas e nós aqui em pé ?
Mas era esse o procedimento daquela Grande Alma. Não se dava o direito de sentar-se enquanto aqueles que o buscavam permanecessem a sua frente em busca de uma palavra.
Aproximou-se uma senhora carregando nos braços uma menina de aproximadamente dois anos e perguntou ansiosa:
– Chico esta menina esteve tão doentinha, será que agora ela vai se arribá?
O Médium depois de um largo sorriso ergueu o bracinho da criança e disse eufórico:
-Querida irmã essa menina só pode sarar! Observe a mãozinha dela! Mais parece uma estrela!
Notei que os olhos da mulher marejaram.
Na verdade, até então não havia presenciado tamanha expressão de felicidade no semblante de uma mãe. Naquele momento pude avaliar a razão pela qual Chico houvera solicitado, para que eu pobre ignorante, ali ficasse ao seu lado, a fim de que pudesse assimilar tudo aquilo.
A visão ampla daquele homem revelava-se em seus mínimos gestos. Num determinado instante ele permitiu -se interromper o atendimento àquelas pessoas e voltando-se para uma voluntária da casa solicitou gentilmente:
-Mirtes, por favor, peça ao irmão Lázaro que venha até aqui.
Um minuto depois se aproximou o homem aparentando trinta e cinco anos. Colarinho da camisa todo puído e trazia o semblante marcado pela tristeza. Assim que deu um carinhoso abraço no Lázaro Chico perguntou-lhe:
-E então bom amigo, conseguiu safar-se da enfermidade?
-Sim Chico, mas será que eu vou conseguir arrumar emprego?
-Esteja certo disso Lázaro – disse enquanto erguia os braços da humilde criatura – Se Deus lhe deu dois instrumentos tão maravilhosos quanto esses, será que Ele vai negar-lhe um emprego?
Lázaro se foi pisando nas alturas, e eu cada vez mais abestalhado com tudo aquilo que acabava de presenciar.
Confesso que nem me lembro se minhas pernas estavam cansadas ou não, só sei que o grande Chico, na grandeza de sua humildade, fez de contas que não percebeu que viera marcar para sempre, com seus exemplos de Amor, a Alma desta mísera criatura.
Álvaro Basile Portughesi
clareon@uol.com.br
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