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Igreja Católica
19/05/2007 – 13h24
Bento XVI é estratégia anti-reformista de Igreja em crise, diz Leonardo Boff
Lucía Guerrero Granada (Espanha), 19 mai 07 (EFE).- A escolha do Papa Bento XVI diz respeito a uma estratégia anti-reformista por parte da Igreja Católica, segundo o teólogo brasileiro Leonardo Boff, que defende romper o sistema patriarcal e clerical desta instituição para atenuar a “profunda crise” na qual está imersa.
Boff, da corrente da Teologia da Libertação – que defende de maneira ativa os pobres e os excluídos – visitou a cidade espanhola de Granada, onde pronunciou uma conferência sobre a crise ecológica do planeta.
Neste encontro, Boff deu sua visão sobre a situação da Igreja Católica.
Neste sentido, disse que o alemão Joseph Ratzinger, que já o impôs silêncio por sustentar a Teologia da Libertação, “não mudou nada”, já que, como Papa, continua representando a figura do cardeal que era, “a imagem de uma Igreja que tem um rosto mais de mãe severa que de uma que fala e aconselha”.
Para este ex-franciscano, que renunciou ao sacerdócio em 1992, a escolha de Bento XVI é um confronto com a modernidade, já que, enquanto “outros papas, como João XXIII, estabeleceram um diálogo com o mundo moderno”, Ratzinger “não contribuiu com nada” no modelo do Governo da Igreja, mas “radicalizou suas posturas”.
Os discursos de Bento XVI aludem à moral familiar e “repetem a conhecida lição contra o aborto ou os anticoncepcionais”, disse.
Neste sentido, o teólogo brasileiro aludiu à profunda crise na Igreja Católica, que perdeu 20 milhões de fiéis nas duas últimas décadas, “gente que se sente cristã, mas que emigra espiritualmente, porque não se identifica com esta instituição”, afirmou.
Boff criticou a atitude de Bento XVI neste assunto, já que, segundo ele, para resistir a esta crise propõe evangelizar mais fiéis e ensiná-los a catequese, uma medida que qualificou de abstrata e longe da realidade, porque “para isso são necessários padres, e não os há”.
Para este escritor e filósofo, a Igreja Católica – à qual criticou por “deixar o laico abaixo e a mulher à margem” – deve entrar em uma fase de profundas mudanças, para modificar seu sistema de “patriarcado autoritário espiritual” e para ser uma instituição menos clerical.
Boff também disse que o celibato deve ser uma opção de liberdade para os padres, e não um uma imposição, uma medida que considerou fundamental para evitar que a Igreja Católica “continue perdendo seu lugar na sociedade, até entrar em uma crise crepuscular e agônica”.
O teólogo, que se confessou católico, apostólico e franciscano, culpou a Igreja de ser cúmplice da crise ecológica na qual, segundo ele, o planeta está imerso.
Para Boff, a instituição eclesiástica interpretou mal o conceito de “herdeiro e jardineiro” da terra exposto no segundo capítulo do Gênesis, uma leitura que “justifica” a dominação do ser humano sobre o planeta.
“A Teologia da Libertação é a opção pelos pobres, contra a pobreza e a favor da vida, mas agora o grande pobre explorado e devastado é a terra”, argumentou o ex-franciscano, que defendeu a necessidade de libertar o planeta de um sistema que explora todos seus recursos naturais de forma desigual.
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Fonte:
http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/05/19/ult1766u21766.jhtm
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