Blog Zen

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Movimento do “slow blogging”, inspirado na idéia de “slow food”, prega que páginas pessoais de internet sejam convite à reflexão, em vez de noticiosas e imediatistas

SHARON OTTERMAN
DO “NEW YORK TIMES”

Quando Barbara Ganley quer refletir sobre a vida, ela caminha pela paisagem rural de Vermont, volta para casa sem pressa e depois escreve em seu blog sobre o que fez e meditou. Num post recente, ela escreveu sobre as impressões geladas deixadas na neve pelos veados quando dormem. Em outro, comentou que quer ir trabalhar de bicicleta e fazer mais reciclagem.

Se seu blog, bgblogging.wordpress.com, soa tranqüilo e repleto de divagações, é porque é exatamente isso. Mas é justamente esse o objetivo. Ganley, 51, integra um movimento pequeno e singular conhecido como “slow blogging” -o blogging sem pressa.

A prática é inspirada no movimento do “slow food”, segundo o qual o fast-food está destruindo tradições locais e hábitos alimentares saudáveis. Os proponentes do slow food acham que a comida deve ser local, orgânica e sazonal; os “slow bloggers” acham que blogs movidos por notícias são o equivalente aos restaurantes de fast food -ótimos para consumo ocasional, mas insuficientes para garantir o sustento humano no longo prazo.

Um Manifesto Slow Blog, escrito em 2006 por Todd Sieling, consultor de tecnologia de Vancouver, Colúmbia Britânica, apresentou os princípios do movimento: “O slow blogging é a rejeição do imediatismo”, escreveu. Devido à ausência de leitores, Sieling não anda mais escrevendo em seu blog.

Mas Barbara Ganley, que deixou recentemente seu emprego de professora de redação no Middlebury College, compara o “slow blogging” à meditação. Segundo ela, o “slow blogging” é “ficar em silêncio por alguns minutos antes de escrever e jamais escrever a primeira coisa que lhe vem à cabeça”.

Em seu blog, Ganley justapõe imagens e textos, tecendo reflexões sobre a paisagem local. Ela tende a incluir posts uma ou duas vezes por semana, mas às vezes passa cerca de um mês sem incluir material novo.

Radicais
Alguns “slow bloggers” gostam de testar ainda mais a atenção de seus leitores. Acadêmicos postam artigos longos sobre estilos de dar aula, enquanto especialistas em tecnologia fazem experimentos para determinar quão pequena pode ser a freqüência de seus posts antes de serem abandonados por seus leitores.

A abordagem é uma provocação dirigida a blogs grupais populares como Huffington Post, The Daily Beast, Valleywag e Boingboing, que podem difundir até 50 itens por dia. Os leitores lotam esses sites, e os anunciantes tomam nota do fato.

Entre os “slow bloggers” e os bloggers a jato, existe um meio termo enorme -centenas de milhares de pessoas que não se esforçam para atrair anúncios e repercussão, mas escrevem porque querem comunicar-se com colegas e amigos que pensam como eles.

Essas pessoas vêm sendo a base do gênero desde o princípio, mas, recentemente, sua produção vem passando por uma mudança drástica. Na prática, se não declaradamente, elas estão cada vez mais praticando o “slow blogging”.

“Tenho notado uma redução marcante nos posts -estou falando dos bloggers mais visíveis, aqueles que têm cem, 200 ou mais leitores”, comentou Danah Boyd, doutoranda da Universidade da Califórnia em Berkeley que estuda cultura popular e tecnologia. “Acho que as pessoas que escreviam posts longos, refletidos, continuam a fazê-lo, mas as que escreviam posts ao estilo “ei, dê uma olhada nisso” estão indo para outros fóruns.”

A tecnologia é parcialmente responsável. Dois anos atrás, se uma pessoa queria compartilhar um link ou um vídeo com amigos ou lhes informar de um evento que teria lugar, ela postava a informação num blog.

Hoje é muito mais rápido digitar 140 caracteres num Twitter update (também conhecido como tweet), compartilhar imagens no Flickr ou usar o serviço de notícias do Facebook. Em comparação com isso, um programa tradicional de blogging como o WordPress pode parecer glacial.

Outra razão pela qual alguns bloggers vêm reduzindo o ritmo de suas contribuições é o puro cansaço. Siva Vaidhyanathan, professor na Universidade da Virgínia, fechou seu blog muito lido, o Sivacracy, em setembro, em parte porque estava exausto com as demandas que o acompanhavam. “Quando você tem seu próprio blog, há muita pressão imaginária para publicar constantemente, ser espirituoso, escrever bem.
Ninguém consegue conviver com isso”, disse ele.

Barbara Ganley, a blogger de Vermont, tem um slogan que capta a tendência perfeitamente: “Escreva num blog para refletir; escreva tweets para se conectar”. “O blogging é aquele lugar sem pressa”, diz ela.

Tradução de CLARA ALLAIN

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0212200815.htm
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