Qual é o sentido da Páscoa?
Como os vários cristãos celebram a data.
Escrito por Por Cristiana Felippe
Sex, 10 de Abril de 2009 05:00
Trata-se da principal festa cristã, pois celebra a ressurreição de Jesus Cristo, depois do sofrimento na cruz.
Foi estabelecida oficialmente pelo Concílio de Nicéia, em 325, para ser comemorada no primeiro domingo após o equinócio do inverno no hemisfério norte (entre 22 de março e 25 de abril).
A idéia era coincidir a data da ressurreição de Cristo com o inicio da primavera, estação que simboliza o renascer. “É o maior fundamento do Cristianismo, porque mostra Jesus vitorioso. No meio de aparente fracasso a vida falou mais alto”, afirma a teóloga e historiadora Maria Cecília Domezi das Faculdades Claretianas de “São Paulo.
“Para o cristão, é a passagem da vida de egoísmo, de pecado e de escravidão para a liberdade em Jesus Cristo, ou seja, possibilidade de ser redimido.” Representa, portanto, um momento de reflexão sobre a vida e a morte, a culpa e o perdão, a solidariedade e a liberdade.
Com a ressurreição de Jesus (quer dizer, a aparição no mesmo corpo após três dias de sua morte), os apóstolos vivenciaram uma experiência de fé e tiveram a certeza da predominância do bem. “Cristo doou a vida e abraçou a causa dos sofredores, sem recuar em nenhum momento“, diz Maria Cecília.
Por ter se sacrificado por toda a humanidade, Jesus tornou-se o “Cordeiro de Deus“ cumprindo assim as profecias, do Antigo Testamento que anunciavam as provações pelas quais o Messias passaria. “Se Cristo não ressuscitou ilusória é a vossa fé, escreveu o apóstolo Paulo na primeira carta aos coríntios.” “Se tudo tivesse terminado no sepulcro, não haveria Cristianismo, apenas uma bela filosofia de vida”, diz o padre Gregório Teodoro da Catedral Ortodoxa de São Paulo.
Católicos
Um dos principais rituais é a missa do Sábado Santo ou do Fogo Novo. Os fiéis reúnem-se, no início da celebração, ao redor de uma pequena fogueira, na entrada da igreja, e proclamam a luz do Cristo Ressuscitado. É aceso o círio pascal (vela grande e benta), que traz as letras alfa e ômega simbolizando que Cristo é o princípio e o fim do Universo. Todos acendem a vela no círio para renovar o compromisso com Deus.
São feitas diversas leituras bíblicas e, finalmente, a proclamação do Evangelho com o anúncio da ressurreição, acompanhado por sinos.
Jesus teria previsto a própria morte e ressurreição: “Este Homem será entregue em mãos homens que o matarão. Ao terceiro dia ressuscitará.” (Mateus 17.23)
Ortodoxos
Seguem o calendário Juliano, com 13 dias a mais no ano, de forma que a Páscoa cristã sempre seja celebrada depois da Judaica, já que Jesus participou dela. Celebram o ofício da ressurreição com cânticos antes da missa. Com todas as luzes da igreja apagadas; o celebrante acende uma vela no altar na qual todos os fiéis acendem suas próprias velas, representando a luz que sai do sepulcro vazio. O padre vai até a entrada do templo, bate na porta e anuncia a presença do Rei da Glória. Depois da missa, distribuem-se ovos cozidos pintados.
Protestantes
Enfatizam a relação entre a Páscoa do antigo Testamento (judeus) e a do Novo Testamento (cristãos). Na páscoa judaica, um cordeiro era sacrificado em nome de Deus e seu sangue era pintado na porta das casas. “Ressaltamos que, na cultura Jesus tornou-se o cordeiro pascal” afirma o teólogo Valtair Miranda, do Rio de Janeiro. Não há imagens nem símbolos Jesus crucificado. Preferem exaltar suas mensagens e sua vitória sobre a morte. Algumas igrejas celebram culto às 6 horas da manhã, hora da ressurreição.
Evangélicos
Muitos celebram a ressurreição assistindo ao nascer do sol no domingo de Páscoa, às 5 horas da manhã, normalmente em lugares altos ao ar livre (como os antigos faziam para estar mais próximos de Deus) ou no próprio templo. Em geral, há cultos especiais nesse dia. “Exaltamos com mais força a ressurreição que a morte”, diz o pastor Ariovaldo Ramos, da Igreja Batista Água Branca, em São Paulo. Por isso, dão mais ênfase ao domingo que à sexta-feira da Paixão. Para recordar a última ceia de Cristo, antes da crucificação, comem ervas amargas.
E qual é a visão dos espíritas?
Nos Centros Espíritas que seguem a Doutrina não há rituais especiais para celebrar a Páscoa porque os adeptos não preconizam a ressurreição. “Pela ciência é impossível voltar para o mesmo corpo depois de um processo de decomposição orgânica”, diz Marco Milani, da União das Sociedades Espíritas de São Paulo. Para o Espiritismo, a hipótese mais provável é que os apóstolos tenham visto Jesus por meio da mediunidade (fenômeno de vidência), mas apenas em espírito e com a mesma aparência que o conheceram.
Os Espíritas consideram, no entanto, que o fato de não ter havido a ressurreição não tira o mérito da missão de Jesus. “Ele é considerado o espírito de conduta moral mais elevada que habitou o planeta, por isso seguimos seus ensinamentos”, afirma Marco.
“Atingiu um grau de evolução que todos nós conseguiremos um dia por meio das varias encarnações (a volta do mesmo Espírito para outro corpo).” Não há necessidade de celebrações especiais porque, acreditam, todos os dias representam novas oportunidades para o aprimoramento moral, o grande objetivo de todo ser humano.
Quem testemunhou a ressurreição de Cristo?
De acordo com a Bíblia foram as mulheres que acompanharam Jesus em suas pregações as primeiras a constatar que o sepulcro estava vazio.
Depois, apesar da divergência entre os evangelhos quanto ao número de testemunhas, o próprio Cristo Ressuscitado teria aparecido a Maria Madalena, aos discípulos que seguiam para o povoado de Emaús e aos 11 apóstolos (o décimo segundo, Judas, enforcou-se depois de trair o Mestre). Nenhum dos quatro textos canônicos revela como, de fato, teria ocorrido ressurreição.
As narrativas concentram-se em mostrar que Çristo teria mesmo vencido a morte, como havia previsto (Lucas 9, 22, entre outras citações).
Segundo os estudiosos, as diferenças entre os relatos se devem à visão teológica de cada evangelista.
Segundo o texto de Marcos, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé foram avisadas por um jovem de que Jesus não estava mais lá. Mateus também menciona as mulheres, mas Salomé desta vez não aparece. O anúncio da ressurreição, neste caso teria vindo de um anjo.
“Como os destinatários de seu evangelho são os judeus convertidos, Ele se preocupa com o tato de que, a mensagem seja contada aos sacerdotes”, afirma o teólogo e padre Antonio Bogaz, de São Paulo. “E destaca a importância das mulheres, para valorizar a tradição judaica da presença feminina na vida da comunidade.
“No Evangelho de João, Madalena aparece como a testemunha primordial seguida por Pedro, como o primeiro dos apóstolos, embora “o discípulo que Jesus amava” (João, na interpretação dos especialistas) tenha chegado antes ao túmulo. “Lucas, por sua vez, tinha uma teologia mais voltada para o núcleo familiar e, por isso, traz mais detalhes nas descrições”, diz o padre Bogaz. Os apócrifos confirmam essas testemunhas: depois de ressuscitado, Jesus teria continuado a aparecer aos apóstolos e às mulheres durante mais doze anos.
O que é o Pessach judaico?
Páscoa judaica ou Pessach (significa passagem da escravidão para a liberdade ou passar por cima) celebra a libertação dos filhos de Israel após dois séculos de cativeiro no Egito. Segundo o costume da época, cada família hebréia deveria sacrificar um cordeiro é pintar as portas das casa com o sangue.
Era um sinal de proteção contra a praga divina. Na celebração atual, comem-se carne de carneiro, pão, ervas amargas como recordação do sofrimento do cativeiro.
A libertação é contada no livro Êxodo e tornou-se o ponto central da história judaica, marcando o surgimento dos Judeus como povo livre.
É comemorada sempre no mês de abril e tem a duração de oito dias. Nas duas primeiras noites, é realizado o jantar festivo (Seder) para recordar o sacrifício judeu.
A comida típica e o matzá (o pão da aflição ou dos pobres), uma bolacha não fermentada feita apenas de trigo e água, que tem a função de relembrar a luta dos antepassados.
“Os judeus expulsos não tiveram tempo de fermentar o pão e o levaram antes que pudesse ser preparado”, conta o rabino Henry Sobel, da Congregação Israelita de São Paulo.
Qual é o simbolismo do coelho e dos ovos de chocolate?
Oferecer ovos como presente é uma tradição do Cristianismo. Na Babilônia e no Egito antigo, estavam associados ao culto da fertilidade.
A tradição vem do Oriente, onde eram embrulhados com cascas de cebola e cozidos com beterraba para ficar coloridos e serem oferecidos na festa da Primavera. Os cristãos se inspiraram neste costume e o consagraram como lembrança da ressurreição de Jesus.
“Ainda adotamos esta tradição antiga de distribuir ovos pintados para simbolizar a nova vida”, diz o padre Gregório Teodoro, da Catedral Metropolitana Ortodoxa. de São Paulo.
O ovo de chocolate, oferecido na, Páscoa, porém, aparece, pela primeira vez no século dezoito, com o desenvolvimento da industria alimentícia na Europa onde teria nascido também a tradição do coelho, associado à criação devido à sua grande prole.
Os anglo-saxões contavam às crianças que os coelhos levavam os ovos e os escondiam entre as plantas.
Na manhã do dia de Páscoa, elas tinham de procurá-los nas ruas e nos jardins.
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Revista das Religiões
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