Suicídio e Eutanásia

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À espera de um milagre

Eutanásia e suicídio assistido refletem “niilismo insalubre”, diz especialista em bioética

EUCLIDES SANTOS MENDES
DA REDAÇÃO (Folha de SP)
Caderno Mais! Pag.6 – 14mar2010

Crítico feroz da eutanásia e do suicídio assistido, Wesley J. Smith, especialista em bioética do instituto de pesquisa norte-americano Discovery, avalia que a regulamentação legal dessas práticas em Estados norte-americanos (Oregon e Washington) e em países europeus (Suíça, Holanda, Bélgica e Luxemburgo) compromete a oferta de serviços de assistência médica a doentes terminais.

“A legalização traz à tona o mais considerável risco de coerção e abandono”, alerta. Para ele, a regulamentação não apenas interfere na qualidade dos tratamentos paliativos como pode levar os pacientes à depressão e ao medo. “Estou convencido de que a legalização do suicídio assistido transforma a cultura e a maneira como nós percebemos o valor do enfermo, do deficiente e do idoso.”

“Ele também questiona a igualdade humana, porque cria a casta das pessoas consideradas descartáveis”, conclui.

Autor de “Forced Exit – Euthanasia, Assisted Suicide and the New Duty to Die” (Saída Forçada – Eutanásia, Suicídio Assistido e a Nova Responsabilidade para Morrer, Encounter Books, 350 págs., U$ 12,82, R$ 23), Smith critica, em entrevista à Folha, associações como a Dignitas e o que chama de “indústria do turismo suicida”.

FOLHA – O sr. conhece a Dignitas? O que pensa a respeito do suicídio assistido e da eutanásia?
WESLEY J. SMITH – Dignitas é uma entidade que ajuda suicidas por um preço. A indústria do “turismo suicida”, da qual faz parte, é ligada a Jack Kevorkian [médico americano conhecido como “Dr. Morte”, por ter declarado que ajudou 130 pessoas a se suicidarem, entre 1990 e 1998, praticando a eutanásia]. A Dignitas não existe para ajudar outras pessoas, tratá-las sob o ponto de vista médico ou encontrar maneiras de aliviar suas dores. Existe para ajudá-las a morrer. É a pior forma de abandono.

FOLHA – O que o sr. pensa sobre a legalização da eutanásia e do suicídio assistido nos EUA e na Europa?
SMITH – Eu me oponho à legalização em todos em casos. Acho que a situação é ainda pior na Holanda, onde a eutanásia ativa é permitida. De fato, lá existem médicos que praticam eutanásia em bebês que nascem com deficiências sérias. Uma vez que a porta está aberta, torna-se muito difícil controlar. Considere também o potencial para utilizar a eutanásia como uma maneira de economizar dinheiro na medicina. A legalização traz à tona o mais considerável risco de coerção e abandono.

FOLHA – Como tal risco advém?
SMITH – Basta olhar o caso dos cuidados paliativos. Advogados dizem que são melhorados -apontando para o bom histórico em Oregon. Quando [o Estado norte-americano de] Rhode Island determinou a ilegalidade do suicídio assistido, mas esclareceu que o controle de uma dor agressiva era legal, a qualidade dos cuidados paliativos subiu dramaticamente.

Na Holanda, vários estudos mostram que a qualidade dos tratamentos paliativos é pior do que em outros países equivalentes. Ativistas de direitos de portadores de deficiências são quase unânimes em se opor ao suicídio assistido porque coloca esses pacientes em considerável risco.

A ideia [do suicídio] lhes sugere que suas vidas são menos dignas de existirem, conduzindo-os à depressão e ao medo. Isso leva a sociedade a olhar de cima o doente e o portador de deficiência, a percebê-los como “cargas” ou pessoas que não beneficiam a sociedade. Isso pode provocar naquele que sente dor ou está muito doente uma pressão para “escolher” o suicídio assistido.

Contudo, estudos mostram que, quando a prevenção adequada é oferecida, mesmo os mais doentes ou deficientes com propensão ao suicídio mudam frequentemente de ideia.

FOLHA – Como é a burocracia da morte por eutanásia ou suicídio assistido nos Estados norte-americanos onde é permitida?
SMITH – O passo a passo burocrático é para criar alguma forma de controle. Mas não há um controle real. Em Oregon, por exemplo, se um médico diz não, o paciente pode procurar outro. Quase todos os casos de suicídio assistido lá são facilitados pela Compassion and Choices [Compaixão e Escolhas], um grupo de defesa do suicídio assistido. Frequentemente, os médicos não conhecem os pacientes antes da consulta para uma prescrição letal. Além disso, o Estado não inspeciona tudo. Apenas recebe os documentos emitidos pelo médico depois do fato.

FOLHA – Cada ser humano deve ter o direito de morrer?
SMITH – Não acredito que haja o “direito de morrer”. Temos, penso, o direito de recusar um tratamento médico não desejado, porque forçá-lo seria uma agressão. Mas isso não significa direito de morrer. Também não temos o direito de ter uma outra pessoa para facilitar nosso suicídio ou nos matar porque queremos morrer. A questão então se torna: qual é a reação apropriada para uma comunidade quando um dos seus membros está tão desesperado a ponto de querer morrer?

FOLHA – Quais são as alternativas?
SMITH – As alternativas são cuidados melhores, mais inclusão, prevenção do suicídio e amor do paciente pela família, pelos amigos e pela sociedade.
De fato, acho estranho que justo quando realmente podemos impedir pessoas de morrer em agonia, a eutanásia se torne mais popular.
Isso é estranho. Acho que há águas culturais profundas aqui que podem refletir um niilismo insalubre.
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Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1403201009.htm
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Publicado em: SinapsesLinks
http://sinapseslinks.blogspot.com/
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