Chazinho

O perigo do chazinho

Órgãos brasileiros alertam sobre o consumo indiscriminado de ervas medicinais e criam cartilhas para divulgar os riscos do uso excessivo

Patrícia Stavis/Folha Imagem

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Todo mundo sabe indicar um chazinho perfeito para diferentes males, com dicas “infalíveis” transferidas pelos mais velhos da família. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 80% da população utiliza remédios naturais ou faz uso da chamada medicina popular para tratar doenças. O que pouco se discute, no entanto, são os riscos da ingestão excessiva das infusões preparadas com ervas, que podem ir de uma dor de cabeça a danos em órgãos vitais.

Ao observar a falta de conhecimento sobre os efeitos adversos do consumo em excesso de plantas medicinais, o Instituto de Biociências da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu preparou uma cartilha para alertar sobre os principais efeitos colaterais das ervas mais consumidas na região. “Observamos que, por considerarem as plantas algo totalmente natural, imaginam que não há riscos”, diz Maria José Queiroz de Freitas Alves, biomédica do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu, orientadora da pesquisa.

Ela acredita que, além de não ter consciência dos perigos, a população não sabe como tirar o melhor proveito dos princípios ativos das plantas. Como exemplo, cita o urucum, que tem propriedades antioxidantes conhecidas, mas que, se levado à fervura, libera toxinas. “Para utilizá-lo com segurança, é preciso deixá-lo em água fria por um tempo”, diz.

Outro fator importante, quase sempre desconsiderado por quem busca os chás para tratamento, é a forma como a erva foi plantada. “O tipo de solo interfere, assim como o uso de agrotóxicos e a época de colheita. E é preciso saber se é melhor usar a erva seca ou fresca, as folhas ou flores”, explica Alves.

É o caso da erva-doce (Foeniculum vulgare), também conhecida como funcho, cujo efeito diurético é mais forte na infusão das folhas, de acordo com uma pesquisa realizada por Débora Vendramini, doutoranda do CPQBA (Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas) da Universidade Estadual de Campinas. Em geral, os chás são preparados com os frutos. No estudo realizado em ratos, o aumento da diurese foi de 144% quando a infusão foi preparada com as folhas, contra 20% no uso dos frutos.

Publicidade irresponsável
A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) também constatou a necessidade de fornecer mais dados à população e prepara uma cartilha para ser divulgada no Estado do Rio de Janeiro. Foram consideradas para esse trabalho 20 das plantas mais citadas pelos vendedores de ervas do Mercado de Madureira, no Rio de Janeiro. “É uma loucura. Os “mateiros” descrevem inúmeras aplicações para uma mesma planta. E não há comprovação na literatura científica”, diz Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas), ligado à fundação.

A autônoma Izilda Aparecida Martins, 49, sofreu com a indicação de pessoas não-especializadas. Com pedra no rim, ela procurou uma infusão para ajudar no tratamento. O chá escolhido prometia ter bom efeito diurético, mas, na verdade, trouxe um problema: retenção de líquidos. “Comecei a tomar chá de porangaba por causa da publicidade forte, não eliminei a pedra e meu corpo começou a inchar”, conta ela.

Outro exemplo de extrapolação de uso é a indicação do avelós (Euphorbia tirucalli) para tratar ou prevenir tumores. Como há algumas pesquisas em andamento com resultados positivos, a erva passou a ser muito procurada para o preparo de chás -mas a planta é tóxica e pode causar alergia. “Contra o câncer, busca-se o princípio ativo, não dá para trabalhar com extrato ou infusão feitos em casa”, explica João Ernesto de Carvalho, biomédico e coordenador da Divisão de Farmacologia e Toxicologia do CPQBA da Unicamp.

O confrei (Symphytum officinale L.), que tem comercialização proibida para uso interno sob risco de causar problemas sérios no fígado, ainda pode ser encontrado facilmente para preparar infusões. “Essa planta já foi considerada “milagrosa” e é cicatrizante, mas só pode ser aplicada externamente”, alerta Maria José Alves, da Unesp.

Para que haja maior controle no uso terapêutico das ervas, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pretende lançar para consulta pública uma lista com 51 espécies de plantas que poderão ser comercializadas como ervas medicinais. A resolução regulamentará a notificação de espécies vegetais, com indicações terapêuticas baseadas na literatura científica. Como, até o momento, as ervas para chás comercializadas no país são regulamentadas como alimentos, não podem apresentar indicações terapêuticas nas embalagens.

Excesso
Felizmente, não é preciso dispensar o esporádico chazinho antes de dormir. “Desde que a planta seja usada de forma equilibrada”, avisa Maria Aparecida de Assis, assistente do laboratório do Sinitox, que organiza as informações da cartilha da Fiocruz.

Guilherme Neves, 24, teve suas dores de estômago e de cabeça agravadas com a ingestão excessiva de erva-mate. Ele adquiriu o hábito de tomar a bebida gelada e exagerava na dose, a despeito de seus problemas estomacais e da enxaqueca. “Eu não percebia que havia relação com a piora das minhas dores, acho que por causa da família, dos amigos e da sociedade, que passam a idéia de que um chazinho faz bem para quase tudo”, diz. Depois de uma crise, o administrador de empresas buscou um médico, que o aconselhou a substituir a bebida por outras infusões.

O grande problema é o uso em demasia, mas, de acordo com especialistas, é difícil definir o excesso. Para evitar riscos, não se deve substituir a água ou a ingestão de outros líquidos pelos chás. Indica-se, ainda, variar as ervas utilizadas e evitar preparar infusões muito concentradas. Gestantes devem consultar o médico antes de consumir essas bebidas, já que algumas plantas podem ser abortivas, caso do sene, usado como laxante.

Como parte de sua dissertação de mestrado, a bióloga Juliana Lanini, do grupo de plantas medicinais do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), entrevistou 20 raizeiros de Diadema, na grande São Paulo. Eles relataram efeitos adversos de várias ervas, como sene, alecrim, erva-mate e erva-doce. “Fomos a campo achando que eles nem saberiam dos possíveis efeitos colaterais, mas eles demonstraram consciência dos riscos do uso em excesso”, diz Lanini.

Ainda assim, como ressalta Rosany Bochner, da Fiocruz, é preciso buscar mais informação. “Os mateiros orientam, mas não sabem se há comprovação científica ou não.”

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq3010200805.htm
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52 Água Limpa

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Água Limpa

22/03/2007
Mais de 1 bilhão de pessoas não têm acesso à agua limpa
Até 2025 dois terços da população mundial pode estar sofrendo com problemas ligados à escassez de água limpa

BBC Brasil

A falta de acesso à água limpa atinge mais de um bilhão de pessoas, de acordo com alerta feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quinta-feira, o Dia Mundial da Água.

A organização alerta que esse número pode dobrar até 2025, quando dois terços da população mundial pode estar sofrendo com problemas ligados à escassez de água limpa.

Atualmente, 2,6 bilhões de pessoas – metade da população dos países em desenvolvimento – vivem em locais sem condições básicas de saneamento.

Os problemas relacionados à falta de acesso à água adequada matam mais de 1,6 milhões de pessoas todos os anos.

Segundo a OMS, 90% das mortes ocorrem entre crianças menores de cinco anos, principalmente em países mais pobres.

“Para cada criança que morre, inúmeras outras sofrem de problemas de saúde, produtividade reduzida e perda de oportunidades de educação”, disse a diretora-geral da OMS, Margareth Chan.

Doenças

A água contaminada pode causar doenças com febre tifóide, cólera, malária, dengue e febre hemorrágica.

Segundo Chan, muitas das doenças e mortes poderiam ser prevenidas com o uso de conhecimentos e tecnologias básicas que já existem há anos.

“A melhoria da administração ambiental pode tornar mais difícil a sobrevivência e reprodução de transmissores de doenças, como mosquitos”, disse. “A água é um assunto de todos. Nós deveríamos aprender uns com os outros.”

A OMS alerta também que as mudanças climáticas podem piorar ainda mais a situação, ao aumentar os períodos de seca, alterar os padrões de chuva e derreter parte das geleiras do planeta.

“No (hemisfério) norte, a quantidade de chuva está aumentando, enquanto no sul os períodos de seca estão ficando mais longos”, disse a OMS.

“Conflitos relacionados à água podem surgir em áreas atingidas entre a comunidade local e também entre países, porque dividir um recurso essencial e limitado é extremamente difícil.”

Fonte: BBC Brasil
Redação Bonde
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Fonte:
http://www.bonde.com.br/bondenews/bondenewsd.php?id=455&dt=20070322
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