Erros Humanos

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Erros Humanos

Domingo, 23 de setembro de 2007.
Estudo sobre erros humanos pode explicar intuição
Gerald Traufetter

Sempre que os seres humanos reconhecem um erro, uma misteriosa onda elétrica percorre o cérebro. Os pesquisadores acreditam que o sinal poderia explicar os vícios, a correção de erros e até mesmo o sexto sentido.

No Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), parte da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa) dos Estados Unidos, o estresse é parte da vida dos 5,5 mil cientistas e engenheiros. Eles sabem que, sempre que tomam uma decisão, até mesmo o menor erro pode ter conseqüências graves.

Afinal, as lembranças de 1999 continuam frescas. Oito anos atrás, quando a sonda espacial Mars Polar Lander entrou na atmosfera de Marte, o contato de rádio foi subitamente perdido. O veículo simplesmente desapareceu das telas do centro de controle. Era como se US$ 400 milhões tivessem sido engolidos pelo silêncio.

Os dois executivos encarregados do projeto estavam convencidos de que seriam demitidos sem direito a apelação. “Em nossa cultura, é assim que lidamos com erros”, disse Markus Ullsperger. Mas, naquela ocasião, os executivos foram poupados, relembra Ullsperger, pesquisador do cérebro no Instituto Max Planck de Pesquisa Neurológica, em Colônia, Alemanha. “E a decisão foi boa”, acrescenta. “Afinal, milhões haviam sido investidos em seu treinamento e educação”.

Do ponto de vista da neuropsicologia, a decisão administrativa foi excelente. Os erros, Ullsperger está convencido, são de fato uma das mais valiosas fontes de conhecimento de que dispomos. “Os erros de um homem são seus portais de descoberta”, afirmou certa vez o escritor irlandês James Joyce, antecipando uma conclusão que a ciência moderna agora veio a confirmar.

Capacidade de detectar os próprios erros

Ullsperger, como uma dúzia de outros grupos de pesquisa em todo o mundo, no momento vem conduzindo um estudo sobre como o cérebro rastreia e processa seus erros. “Nosso cérebro dispõe de uma fascinante capacidade de detectar erros, e, caso já tenham ocorrido, de aprender com a experiência”, ele afirma.

O conceito de “negatividade relacionada a erros” (NRE) vem cativando o mundo científico, e se refere a uma onda característica de energia elétrica que percorre o cérebro e pode ser medida sempre que este detecta que um erro foi cometido. Especialmente surpreendente é o fato de que o sinal da NRE já começa a se manifestar antes mesmo que a pessoa esteja consciente de seu erro.

No começo dos anos 90, Michael Falkenstein, neurofisiologista na cidade de Dortmund, oeste da Alemanha, observou pela primeira vez como a voltagem cai em pelo menos 10 milivolts em um determinado grupo de células cerebrais, e que isso ocorre apenas 100 milissegundos depois que uma pessoa cometeu um erro – mais ou menos o tempo que o cursor de um computador precisa para reagir a um clique de mouse.

A descoberta de Falkenstein marcou o início de um período de estudo sistemático do afiado sistema cerebral de detecção de erros. Isso abriu caminho para novas e fascinantes teorias sobre questões como os motivos para que surjam distúrbios compulsivos ou para que certas pessoas hesitem enquanto outras tomam decisões confiantes. E também serve para iluminar o processo de desenvolvimento dos vícios.

Subitamente começou a se tornar claro porque uma pessoa pode muitas vezes evitar erros com base apenas em um palpite. “As experiências do sistema de erros fornecem exatamente o conhecimento inconsciente no qual a intuição se baseia”, afirma Ullsperger.

Sensação de vaga inquietação

O sistema de detecção de erros age de duas maneiras. Primeiro, ele interfere de modo corretivo quando uma pessoa comete um erro. Mas também dispõe de uma capacidade de alerta. Quando reconhece que uma ação pode não conduzir ao resultado esperado, esse reconhecimento é expresso na forma de uma sensação de vaga inquietação.

Ullsperger e os demais pesquisadores planejam descobrir exatamente de que maneira funciona esse mecanismo, usando um sistema de ressonância nuclear magnética (NMR). Os objetos de estudo que são analisados na cápsula de NMR passam por testes simples, como a tarefa Eriksen-Flanker, uma ferramenta conhecida e comum dos neurocientistas. No teste, grupos de letras como SSHSS, SSSSS ou HHSHH brilham diante dos olhos do participante, e ele é convidado a premir um de dois botões: o da esquerda se a letra central for um S e o da direita se ela for um H.

Não é uma tarefa tão fácil quando pode parecer. As letras à esquerda e à direita da principal confundem o observador, especialmente quando o tempo para executar a tarefa é limitado; os participantes muitas vezes corrigem suas respostas iniciais, alguns segundos mais tarde. “Eles se comportam como fazemos ao cometer um erro em uma fala: percebemos o erro e rapidamente corrigimos”, diz Ullsperger.

Um capacete equipado de eletrodos mede as ondas NRE que surgem no cérebro dos pacientes durante o processo, enquanto a máquina de NMR observa a área do cérebro na qual as células nervosas demonstram grau considerável de atividade.

O método torna possível reproduzir a anatomia da detecção de erros, e revela que, imediatamente depois da onda NRE, o cérebro central subitamente deixa de produzir dopamina. O sinal neuroquímico é transferido aos gânglios basais e assim ao sistema límbico, no qual as emoções são geradas.

Os pesquisadores também descobriram que outro feixe de nervos está envolvido na detecção de erros. Ele conduz a uma seção profunda do córtex, que distribui o sinal de maneira mais ampla pelo córtex cerebral. “Essa cascata envia os seguintes sinais às posições executivas: Pare, alguma coisa de errado está acontecendo aqui. Verifique e, se necessário, corrija imediatamente”, explica Ullsperger.
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Tradução: Paulo Migliacci ME
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Fonte:
http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1931599-EI8147,00-Estudo+sobre+erros+humanos+pode+explicar+intuicao.html
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Erros Humanos

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Erros Humanos

Pesquisas
Domingo, 23 de setembro de 2007, 08h51
Estudo sobre erros humanos pode explicar intuição
Gerald Traufetter

Sempre que os seres humanos reconhecem um erro, uma misteriosa onda elétrica percorre o cérebro. Os pesquisadores acreditam que o sinal poderia explicar os vícios, a correção de erros e até mesmo o sexto sentido.
No Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), parte da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa) dos Estados Unidos, o estresse é parte da vida dos 5,5 mil cientistas e engenheiros. Eles sabem que, sempre que tomam uma decisão, até mesmo o menor erro pode ter conseqüências graves.

Afinal, as lembranças de 1999 continuam frescas. Oito anos atrás, quando a sonda espacial Mars Polar Lander entrou na atmosfera de Marte, o contato de rádio foi subitamente perdido. O veículo simplesmente desapareceu das telas do centro de controle. Era como se US$ 400 milhões tivessem sido engolidos pelo silêncio.

Os dois executivos encarregados do projeto estavam convencidos de que seriam demitidos sem direito a apelação. “Em nossa cultura, é assim que lidamos com erros”, disse Markus Ullsperger. Mas, naquela ocasião, os executivos foram poupados, relembra Ullsperger, pesquisador do cérebro no Instituto Max Planck de Pesquisa Neurológica, em Colônia, Alemanha. “E a decisão foi boa”, acrescenta. “Afinal, milhões haviam sido investidos em seu treinamento e educação”.

Do ponto de vista da neuropsicologia, a decisão administrativa foi excelente. Os erros, Ullsperger está convencido, são de fato uma das mais valiosas fontes de conhecimento de que dispomos. “Os erros de um homem são seus portais de descoberta”, afirmou certa vez o escritor irlandês James Joyce, antecipando uma conclusão que a ciência moderna agora veio a confirmar.

Capacidade de detectar os próprios erros

Ullsperger, como uma dúzia de outros grupos de pesquisa em todo o mundo, no momento vem conduzindo um estudo sobre como o cérebro rastreia e processa seus erros. “Nosso cérebro dispõe de uma fascinante capacidade de detectar erros, e, caso já tenham ocorrido, de aprender com a experiência”, ele afirma.

O conceito de “negatividade relacionada a erros” (NRE) vem cativando o mundo científico, e se refere a uma onda característica de energia elétrica que percorre o cérebro e pode ser medida sempre que este detecta que um erro foi cometido. Especialmente surpreendente é o fato de que o sinal da NRE já começa a se manifestar antes mesmo que a pessoa esteja consciente de seu erro.

No começo dos anos 90, Michael Falkenstein, neurofisiologista na cidade de Dortmund, oeste da Alemanha, observou pela primeira vez como a voltagem cai em pelo menos 10 milivolts em um determinado grupo de células cerebrais, e que isso ocorre apenas 100 milissegundos depois que uma pessoa cometeu um erro – mais ou menos o tempo que o cursor de um computador precisa para reagir a um clique de mouse.

A descoberta de Falkenstein marcou o início de um período de estudo sistemático do afiado sistema cerebral de detecção de erros. Isso abriu caminho para novas e fascinantes teorias sobre questões como os motivos para que surjam distúrbios compulsivos ou para que certas pessoas hesitem enquanto outras tomam decisões confiantes. E também serve para iluminar o processo de desenvolvimento dos vícios.

Subitamente começou a se tornar claro porque uma pessoa pode muitas vezes evitar erros com base apenas em um palpite. “As experiências do sistema de erros fornecem exatamente o conhecimento inconsciente no qual a intuição se baseia”, afirma Ullsperger.

Sensação de vaga inquietação

O sistema de detecção de erros age de duas maneiras. Primeiro, ele interfere de modo corretivo quando uma pessoa comete um erro. Mas também dispõe de uma capacidade de alerta. Quando reconhece que uma ação pode não conduzir ao resultado esperado, esse reconhecimento é expresso na forma de uma sensação de vaga inquietação.

Ullsperger e os demais pesquisadores planejam descobrir exatamente de que maneira funciona esse mecanismo, usando um sistema de ressonância nuclear magnética (NMR). Os objetos de estudo que são analisados na cápsula de NMR passam por testes simples, como a tarefa Eriksen-Flanker, uma ferramenta conhecida e comum dos neurocientistas. No teste, grupos de letras como SSHSS, SSSSS ou HHSHH brilham diante dos olhos do participante, e ele é convidado a premir um de dois botões: o da esquerda se a letra central for um S e o da direita se ela for um H.

Não é uma tarefa tão fácil quando pode parecer. As letras à esquerda e à direita da principal confundem o observador, especialmente quando o tempo para executar a tarefa é limitado; os participantes muitas vezes corrigem suas respostas iniciais, alguns segundos mais tarde. “Eles se comportam como fazemos ao cometer um erro em uma fala: percebemos o erro e rapidamente corrigimos”, diz Ullsperger.

Um capacete equipado de eletrodos mede as ondas NRE que surgem no cérebro dos pacientes durante o processo, enquanto a máquina de NMR observa a área do cérebro na qual as células nervosas demonstram grau considerável de atividade.

O método torna possível reproduzir a anatomia da detecção de erros, e revela que, imediatamente depois da onda NRE, o cérebro central subitamente deixa de produzir dopamina. O sinal neuroquímico é transferido aos gânglios basais e assim ao sistema límbico, no qual as emoções são geradas.

Os pesquisadores também descobriram que outro feixe de nervos está envolvido na detecção de erros. Ele conduz a uma seção profunda do córtex, que distribui o sinal de maneira mais ampla pelo córtex cerebral. “Essa cascata envia os seguintes sinais às posições executivas: Pare, alguma coisa de errado está acontecendo aqui. Verifique e, se necessário, corrija imediatamente”, explica Ullsperger.

Tradução: Paulo Migliacci
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Fonte:
http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1931599-EI8147,00-Estudo+sobre+erros+humanos+pode+explicar+intuicao.html
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