Excomunhão

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Hoje, a excomunhão é como se fosse um tiro de pólvora

A excomunhão (do latim “excommunicatione”, exclusão) é uma pena eclesiástica, que separa o pecador católico da Igreja. Ele é entregue a satanás. Mas será que isso acontece mesmo?

Há a excomunhão automática e a feita por uma autoridade da Igreja. Ferir um padre ou fazer aborto provoca a automática. Em 1950, o católico, que frequentasse o espiritismo por mais de seis meses, era excomungado automaticamente, por uma decisão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Mas hoje, com exceção dos católicos das cidades pequenas, 80 % frequentam-no! Quem nega um dogma católico, pode ser excomungado por um bispo ou pelo papa. A excomunhão do papa é “ex cathedra” (de cadeira), universal. A do bispo só vale na sua diocese. Um excomungando na Arquidiocese de Belo Horizonte, não o é na de Mariana.

No caso do aborto na menina de 9 anos, segundo as últimas notícias, o bispo dom José Cardoso Sobrinho não teria feito a excomunhão, mas apenas falado que ela existe para o caso. E o estupro é um crime muito grave, nefando e hediondo. Mas o homicídio de aborto é que consta do direito canônico como incurso em excomunhão. Costumo dizer que uma semente de feijão, que já começou a brotar, já é um pé de feijão. É semelhante o que ocorre com o embrião humano, que já se torna um ser humano desde o instante da concepção. Como vimos, para a Igreja o aborto é caso de excomunhão. Para o espiritismo, em “O Livro dos Espíritos” (o catecismo espírita), de Kardec, ele é permitido no caso de risco de vida para a mãe (Questão 359). Nesse caso, a Igreja tolera-o também. Porém já ouvi católicos dizerem que o praticaram, mas que já o confessaram para o padre, e que está, pois, tudo bem. Isso é um incentivo ao aborto! Para os espíritas a coisa é mais séria. É que, no fenômeno da reencarnação, o espírito é preexistente (Jeremias 1,5). O aborto tem, pois, consequências graves para os seus responsáveis em vidas futuras.

Antigamente, não se podia falar com os excomungados. Em alguns países, eles eram proibidos de serem funcionários públicos, o que aconteceu muito com os padres que deixavam a batina. E ninguém podia socorrer um excomungado, dando-lhe alimento e abrigo. Seu destino era, pois, morrer de miséria e inanição, quando não na fogueira. Há um lado positivo na atitude do arcebispo de Olinda e Recife dom José, no episódio do aborto feito na menina de 9 anos: a população teve a sua atenção despertada para o quanto é grave o assassinato dos bebês de vida ainda intrauterina. E outras religiões excomungam também. Por causa do seu panteísmo, Spinoza foi excomungado pelo judaísmo. A excomunhão é imprópria para o cristianismo. Leiamos são Tiago (3,11): “Acaso pode uma mesma fonte jorrar o que é doce e o que é amargoso?” São Paulo entregou um pecador incestuoso a satanás, mas para o pecador mortificar-se e ser salvo (1 Coríntios 5,5). Ele anatematizou quem pregasse um evangelho herético, mas não o condenou ao inferno (Gálatas 1,8). E o Concílio de Trento (1545 a 1563) recomendou moderação nas excomunhões, pois as precipitadas, ao invés de causarem temor, são desprezadas!

Atualmente, a excomunhão pesa para quem é do clero ou da política. O bispo excomungado, que negou o Holocausto dos judeus, retratou-se por seu livre-arbítrio ou para não perder os privilégios da Igreja? Nos demais casos, ela é como se fosse um tiro de pólvora!

José Reis Chavez
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Fonte:
http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdEdicao=1241&IdColunaEdicao=8115
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