Falar com os “mortos”, coisa de maluco?
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA (Folha de São Paulo)
Há cerca de 14 anos, quando fui convidado para dirigir a sucursal de Brasília da Folha, o diretor de redação, Otavio Frias Filho, marcou um almoço comigo para falar sobre a função. No meio do encontro, ele me surpreendeu quando mudou o rumo da conversa e pediu que eu falasse um pouco sobre minhas crenças.
Minha reação imediata foi: “Será que devo falar sobre isso? Você vai achar que colocou um maluco na direção do jornal em Brasília”. Como recebi estímulo para seguir, só falamos de espiritismo dali em diante.
Hoje, ao lembrar daquele episódio, vejo que eu mesmo tinha um certo receio em falar que era espírita. Exatamente por saber que, no meu meio, muitos me achavam maluco ao falar sobre comunicação com os “mortos”.
Otavio não só me estimulou como, ao final da conversa, não me classificou de “louco” por ser espírita, religião que hoje é muito mais aceita dentro da sociedade brasileira e começa a crescer, estando presente nas diversas classes sociais.
Uma religião que seus adeptos preferem classificar de doutrina cristã, fundada na fé raciocinada e que prega a caridade como principal caminho para a evolução espiritual.
Uma religião aberta, que costuma ter entre seus seguidores católicos que assistem à missa pela manhã e participam de reuniões espíritas à noite.
Se já foi considerada “coisa do demônio”, como dizia minha mãe, ou “crença de malucos”, o espiritismo vive um momento de expansão e divulgação, numa época de terreno fértil diante de novas teorias sobre o fim do mundo.
Chico Xavier dizia que “embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.
Se só essa mensagem ficar na mente dos que virem o filme, já terá valido a pena. Ela vale para qualquer um. Tanto para os que creem que a vida é única e tem um fim -seja a deles ou a da terra. Como para os malucos que falam com os “mortos”.
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Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2602201011.htm
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