Fama

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Uma força incontrolável

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[…] A FAMA, MESMO QUANDO VOCÊ NÃO A BUSCA, PODE DEIXÁ-LO COM UM LEGADO QUE DISTORCE QUEM VOCÊ É
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Por: Michael Kepp

A fama é uma faca de dois gumes, não só porque tende a ser efêmera e invasiva mas porque é sempre incontrolável.

Os famosos, apesar do poder que muitos ostentam, não têm poder sobre como serão lembrados. É verdade, aqueles que matam presidentes americanos sabem de antemão que serão notórios. Mas a fama, mesmo quando você não a busca, pode deixá-lo com um legado que distorce quem você é.

Algumas dessas caricaturas duradouras são mais lisonjeiras do que outras. Helô Pinheiro gosta ser conhecida como a musa inspiradora de “Garota de Ipanema”. O mesmo não pode ser dito de Monica Lewinsky, a estagiária da Casa Branca que será lembrada por fazer sexo oral com o presidente Clinton. Parafraseando Lewinsky: “Preferiria ser bem conhecida por outra coisa”.
O sufixo de “Clintongate” se refere ao escândalo que forçou o presidente Nixon a renunciar após tentar encobrir espionagem política encomendada por seus assessores no complexo Watergate. Desde o caso Watergate, todo escândalo político americano acaba em “gate”. É o legado de Nixon.

Um legado pode ofuscar uma vida de realizações. Os suicídios da poetisa Sylvia Plath e de Assia Wevill, que se mataram enfiando a cabeça no forno a gás, lançaram uma suspeita tão grande sobre o homem infiel com quem foram casadas, Ted Hughes, um dos melhores poetas ingleses de sua geração, que eclipsou seu trabalho.

A fama pode levar seus admiradores a confundirem você com sua imagem, especialmente em Hollywood. Rita Hayworth é lembrada como a estonteante “femme fatale” de “Gilda” e como uma das mulheres mais desejadas da sua época. Mas esse legado ofusca seu insucesso no amor. Ela colocou a culpa do fim de seus cinco casamentos no fato de que “os homens se apaixonam por Gilda, mas acordam comigo”.

No livro “Deu no New York Times”, Larry Rohter acertou ao se indignar com as distorções da fama. “Fico incomodado com o fato de que, das centenas de matérias que escrevi sobre o Brasil, a reportagem sobre Lula e a bebida é a única que a maioria dos brasileiros conhece”, escreveu. “E reconheço que, quer eu queira, quer não, “o caso Larry Rohter” já faz parte da história do Brasil.”
Mas, além do debate sobre a relevância da matéria em si, o caso não teria tido tanta repercussão (1) se Rohter não trabalhasse no jornal mais influente do mundo, (2) se um de seus editores não tivesse dado à matéria o título enganador “Gosto do dirigente brasileiro pela bebida torna-se preocupação nacional” e (3) se Lula não tivesse tentado expulsá-lo do país.

A fama brota de um coquetel imprevisível de catalisadores. Muitos dos que são pegos em sua luz parecem cervos paralisados por faróis de carro. E até quem busca a fama está mal preparado para ela. É verdade, quanto mais uma pessoa se conhece, menos a fama pode defini-la. Mas essa força nunca pode ser totalmente controlada e sempre tem a última palavra.

MICHAEL KEPP, jornalista norte-americano radicado há 26 anos no Brasil, é autor do livro de crônicas “Sonhando com Sotaque – Confissões e Desabafos de um Gringo Brasileiro” (ed. Record)

Site:
www.michaelkepp.com.br
mkepp@terra.com.br
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Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq1604200901.htm
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Publicado em: SinapsesLinks:
http://sinapseslinks.blogspot.com/
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