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O Inverno
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Era uma noite de inverno e as pessoas reviravam os seus guarda roupas, na busca dos velhos agasalhos, que ficaram em desuso por um ano. Procurei também por alguns acolchoados guardados na parte superior do armário. Havia os tirado dali, para que tal volume, não ocupasse espaços onde se encontravam os travesseiros utilizados, todos os dias, ou melhor, todas as noites.
Precisava me proteger, pois o serviço de meteorologia estava prevendo para a madrugada que viria, a chegada do maior frio que até então se instalara neste ano. Teria de providenciar igualmente, cobertor e edredom que agasalhasse a minha netinha, sim, a menina Suelen de apenas oito aninhos.
Estava me sentindo feliz pelos recursos que possuía para enfrentar a intempérie. Faria um achocolatado, daquele chocolate bem quentinho, que as pessoas bem aquinhoadas, tomam durante as noites de inverno, junto à lareira.
22 horas e o frio viera inclemente. Depois de todas as providências, inclusive de haver agasalhado convenientemente a minha adorada netinha, me escondi gostosamente debaixo dos cobertores.
Quando a temperatura já se tornava bem agradável, ouvi algumas palmas vindas do portão. Pensei: Sair daqui agora, neste momento em que o lençol se aquecera, seria um verdadeiro suicídio. Ah estava bom demais! Por outro lado, deixar de atender a porta seria covardia. As fracas palmas se repetiram.
Meio contra a vontade levantei-me, e não gostei da cena que acabava de ver: Duas meninas com aparências de no máximo 12 anos, uma delas para minha revolta trazia um nenê ao colo. Irritado antes que elas me pedissem algo, sim percebi pelos frangalhos de suas vestes que esmolavam, adiantei-me:
– Vocês não deveriam jamais valerem-se de um nenê para emocionar as pessoas, da próxima vez, deixem o irmãozinho em casa, protegido desse frio rigoroso!
Entrei e me encaminhei à cozinha a cata de algo. Ao retornar, confesso que chorei ao presenciar a triste cena: Uma das meninas, sentada ao meio fio da calçada, mantinha o nenê aconchegado ao peito enquanto o amamentava.
Álvaro Basile Portughesi
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Ano de 2004