A Beleza do Sorriso

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A Beleza do Sorriso
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Neurociência
Suzana Herculano-Houzel

A felicidade começa no cérebro. Faça algo bem feito, receba um agrado ou um carinho ou ache graça em uma piada, e seu sistema de recompensa se encarrega de fazer com que as regiões do cérebro que cuidam de movimentos automáticos -aqueles que fazemos sem precisar pensar- estampem um belo sorriso em seu rosto.

Se ele é genuíno, essas regiões do cérebro tratam de elevar os cantos da boca, relaxar as sobrancelhas e, o mais importante, apertar levemente as pálpebras. É acionado também o córtex órbito-frontal (OFC), parte do cérebro que registra quando algo de bom acontece -como a causa do sorriso.

O sorriso forçado, aquele que damos tantas vezes para a câmera, é diferente. Ele parte de regiões do cérebro que comandam movimentos voluntários e não causa ativação do OFC. Não diz, portanto, ao resto do cérebro que algo de particularmente bom aconteceu. Ou seja: você pode até sorrir por fora, mas seu cérebro sabe que você não está sorrindo por dentro.

O incrível é que estampar um sorriso no rosto pode bastar para que comecemos a nos sentir bem. O truque funciona mesmo se você instruir um ator a montar um sorriso, músculo a músculo.

Quanto mais os atores aprendem a dominar o músculo que circunda as pálpebras, adotando uma expressão de felicidade genuína, mais seus corpos começam a se preparar para a felicidade, proporcionando-lhes um bem-estar que eles não sabem explicar. A neurociência, contudo, explica: um trabalho recente mostrou que o sorriso genuíno já basta para ativar o córtex da ínsula, região do cérebro que nos dá sensações subjetivas como a do bem-estar.

Ver alguém sorrir também funciona. Um sorriso no rosto de quem fala com você aciona as mesmas áreas do cérebro responsáveis pelo seu próprio sorriso, inclusive a ínsula e o OFC. É como se ver alguém sorrindo bastasse para você se sentir sorrindo por dentro também. Uma vez que seu cérebro repete por dentro o sorriso que ele vê por fora, o bem-estar do outro é contagiante. Felicidade gera felicidade: ela passa de um cérebro para o próximo por meio do sorriso.

E, se tudo isso ainda não bastar para você começar a sorrir agora mesmo, eis uma razão a mais: o OFC, que é acionado automaticamente quando vemos uma pessoa bonita (feia não serve!), fica ainda mais ativo quando essa pessoa sorri.

O sorriso é, portanto, o tratamento de beleza mais rápido, barato e democrático que a natureza -e a neurociência- já inventou…

[…] Estampar um sorriso no rosto pode bastar para que comecemos a nos sentir bem

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq1708200609.htm

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SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de “Sexo, Drogas, Rock’n’Roll & Chocolate” (ed. Vieira & Lent) e de “O Cérebro em Transformação” (ed. Objetiva)

Alfabetização

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Em defesa do direito de ser alfabetizado

NEUROCIÊNCIA
Suzana Herculano-Houzel

[…]
NÃO É POSSÍVEL AFIRMAR QUANDOO CÉREBRO ESTÁ PRONTO PARA APRENDER A LER

A leitura é uma habilidade inventada pelo cérebro humano. Inventada mesmo: se a capacidade para expressar ideias em sons e gestos é inata (ainda que tenha que ser desenvolvida), a codificação dessas ideias em rabiscos arbitrários -as letras- e a decodificação de grupos desses rabiscos em sons e ideias é algo que nossos antepassados começaram a fazer 5.000 ou 10 mil anos atrás.

Conseguimos ler e escrever graças às conexões entre as áreas do cérebro responsáveis respectivamente pela identificação de símbolos visuais, pela identificação de sons, pela representação de conceitos e pela produção dos movimentos da boca associados a cada palavra.

A leitura só se torna possível quando tudo isso funciona em conjunto, permitindo que os símbolos vistos no papel encontrem no cérebro sons e significados associados a eles. A escrita, por sua vez, requer, além disso, coordenação sensoriomotora suficiente para não apenas identificar os rabiscos associados aos sons mas produzi-los ativamente de memória.

Quando tudo isso acontece? Em algum momento da infância -conforme as conexões na substância branca entre as áreas envolvidas, espalhadas nos lobos temporal, parietal e frontal, amadurecem, ganhando uma capa de mielina que torna a troca de sinais entre essas áreas mais rápida e fidedigna.

Quanto mais intensa é a mielinização, melhor tende a ser a capacidade de leitura do indivíduo. Mas não é possível precisar uma idade em que o cérebro “fique pronto” para aprender a ler: o amadurecimento da substância branca é um processo sujeito a algumas variáveis.

Se algumas crianças de fato só terão a interconectividade necessária à alfabetização madura o suficiente aos seis ou sete anos de idade, outras podem tê-la madura o suficiente já aos cinco ou quatro anos e aprender a ler sem problemas.

Esse é o consenso na neurociência: se cada criança tem seu tempo, não há uma idade mágica para começar a alfabetização. Mas o MEC aparentemente discorda e quer decidir, para fins de “alinhamento entre os sistemas”, que crianças abaixo de seis anos completos até 31 de março não só não devem ser alfabetizadas como não têm direito a entrar no ensino fundamental mesmo que já alfabetizadas e maduras, sociáveis e interessadas em ir à escola. Querem colocar o cérebro em uma forma e ignorar a diversidade em nome da burocracia.

Eu protesto!

SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de “Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor” (ed. Sextante) e do blog:
www.suzanaherculanohouzel.com
suzanahh@gmail.com
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Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0104201009.htm
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Publicado em: SinapsesLinks
http://sinapseslinks.blogspot.com/
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Mágica!

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NEUROCIÊNCIA

Suzana Herculano-Houzel
Mágica!

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[…] Sem ter estudado neurociência, o mágico sabe que nunca paramos de prestar atenção enquanto estamos acordados
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Detesto festas de criança com animadores. Mas, quando há um show de mágica, já estou lá. Adoro sentar no chão com as crianças e me deixar maravilhar com as habilidades do mágico de confundir meu cérebro conforme lenços somem e reaparecem e moedas jorram dos ouvidos alheios.

Sei perfeitamente que há uma explicação plausível por trás de tudo aquilo -mas isso não diminui em nada a experiência. Ao contrário, só me deixa mais maravilhada.

Como eu teria adorado, então, participar da reunião da Associação para o Estudo Científico da Consciência em 2007, muito apropriadamente realizada em Las Vegas, onde houve um simpósio sobre… mágica! Os cinco mágicos presentes demonstraram sua arte e sugeriram aos neurocientistas como usar em laboratório os recursos da mágica para “mexer com a cabeça” dos voluntários.

Mágicos são pessoas com intuições profundas -e grande conhecimento prático- sobre a atenção e a consciência humana, que eles exploram e manipulam em suas apresentações. Sem ter estudado neurociência, eles sabem, por exemplo, que nunca paramos de prestar atenção enquanto estamos acordados; apenas mudamos de foco, e objetos coloridos que aparecem subitamente, assim como movimentos amplos, têm grandes chances de roubar nossa atenção e abrir uma janela de oportunidade para o mágico fazer o que for preciso. Sabem que cerca de dois décimos de segundo não chegam às nossas mentes quando piscamos.

Exploram as expectativas criadas no cérebro por repetições, a ponto de jurarmos que uma bola foi de fato arremessada -e sumiu em pleno ar- só porque vimos as anteriores chegarem ao alvo. E abusam de nossa cegueira para mudanças que ocorrem defronte de nossos olhos durante interrupções como um pano passado à frente de uma pessoa que é então trocada por outra.

Um pouco de mágica em laboratório, portanto, pode ajudar a neurociência a explorar os mecanismos da atenção e da consciência.

Além de entender o que se passa na cabeça de espectadores boquiabertos (como uma intensa ativação do sistema de recompensa, que não pode deixar algo incrível passar despercebido).

O mais importante é que explorar como ela funciona não diminui a graça da mágica. Pelo contrário: mesmo sabendo como sua atenção e consciência estão sendo manipuladas, até uma platéia de neurocientistas é capaz de ser levada por um bom mágico a acreditar que a única explicação possível é… mágica!

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SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora do livro “Fique de Bem com o Seu Cérebro” (ed. Sextante) e do blog “A Neurocientista de Plantão” (www.suzanaherculanohouzel.com)

suzana.herculano-houzel@grupofolha.com.br
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