Chico Xavier

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Chico Xavier

Semana passada, cerca de 2.000 pessoas estiveram em Pedro Leopoldo participando do II Encontro Nacional dos Amigos de Chico Xavier – o maior médium que já existiu entre nós.

E volto no tempo, quando, numa noite fria em Uberaba, com 18 anos de idade, me vejo equilibrando-me no alto de uma janela. Eu e uma multidão que foi àquela cidade para vê-lo psicografando, em estado mediúnico.

O guarda me tirava e eu voltava correndo até, finalmente, conseguir adentrar na sala apinhada. A emoção era tanta que sequer piscava os olhos, sabia que estava diante de uma pessoa ímpar.

Lembro-me da casa simples, da mesa de madeira em que ele, com a cabeça abaixada e os olhos cerrados, psicografava mensagens daqueles que já se foram, dirigidas a parentes e entes queridos ali presentes. Imagino quanto conforto essas mensagens pessoais e detalhadas traziam a essa gente.

Nesse dia, adquiri vários dos seus livros, dentre os mais de 400 que já psicografou e cujos direitos autorais eram e continuam sendo doados a obras assistenciais.

Na manhã seguinte, acordei cedo para acompanhá-lo a uma peregrinação por bairros pobres da cidade. Humilde, caladinho, com uns óculos enormes e pesados, distribuía mantimentos e sorrisos tímidos. Voltei para Belo Horizonte com a certeza de ter visto um “santinho”.

Um “santinho” que ainda hoje, através de suas mensagens, me acompanha. Há anos, o livro “Calma”, psicografado pelo espírito Emmanuel, é meu livro de cabeceira.

Ao ler sua biografia, descubro que seu primeiro contato com a doutrina espírita foi em 1927. Quando criança, costumava ouvir vozes ou sentir mãos sobre as suas, guiando suas escritas. Menino, não compreendia como sua mãe, já desencarnada, continuava a lhe aparecer, principalmente nos momentos de aflição.

E me vem à mente uma experiência pessoal. Com 14 anos, acordei no meio da noite sendo observada por uma mulher. Refeita do susto inicial, levantei minha cabeça e fiquei ali, olhando para aquela senhora morena, alta, com uma espécie de coque que, em silêncio, me guardava. A imagem durou alguns segundos até se desfazer. Não tive medo, apenas curiosidade em saber quem era e o porquê de estar ali, ao meu lado, naquela madrugada fria. Deixei a luz acesa e, absorta em pensamentos, novamente adormeci.

No dia seguinte, contei a minha mãe o ocorrido. Ela, sem estranhar, disse-me que, pela descrição, tratava-se da Chica, sua ama, amiga, confidente e protetora. Falecida há mais de 40 anos, jamais deixou de nos acompanhar. De acordo com minha mãe, foi quem ajudou a criá-la, dando-lhe conselhos e ensinamentos cheios de simplicidade e sabedoria. Dizem que, quando minha mãe nasceu, Chica passou um ramo de alecrim em seu rosto, banhou-a na água de rosas e disse: Nada de mal vai lhe acontecer. E desde então, nunca mais a deixou.

Quando a vi em meu quarto, foi num período difícil de nossas vidas, minha mãe estava doente e eu, meio perdida com a situação. Ainda hoje, mantenho em meus pertences uma sua foto. Ao vê-la, não tenho dúvidas, é a mesma que numa noite, num momento de provações, zelava por mim.

Às vezes, sinto uma ligação quase telepática com uma grande amiga que mora distante. Dizem que já fomos irmãs em outras vidas. Acontece também de pensar em determinada pessoa e ela no exato momento me ligar – o que ocorre com frequência entre meu marido e eu. Também a intuição se faz presente em várias circunstâncias. Sei que esse tipo de sensibilidade é comum a muitas pessoas. Não estou segura se poderia ser chamado de mediunidade, provavelmente não, mas, seja como for, não é nada que cause estranhamento.

Chico Xavier, numa certa ocasião, disse: “Nunca quis mudar a religião de ninguém, porque não acredito que a religião ‘a’ seja melhor que a religião ‘b’. Nas origens de toda religião cristã está o Pensamento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se Allan Kardec tivesse escrito que ‘fora do Espiritismo não há salvação’, eu teria ido por outro caminho. Graças a Deus ele escreveu ‘Fora da Caridade’, ou seja, fora do Amor não há salvação…”.

Admiro e me identifico com a doutrina kardecista. Ouvir sobre o evangelho ou tomar um passe são coisas que me trazem conforto, assim como comungar numa igreja Católica ou participar de um encontro na Sociedade Teosófica (que não diz respeito a uma religião específica, mas à Verdade de todas). Estar num templo hinduísta na Índia, ao som de um mantra, é fascinante. O budismo, mais que religião, é uma filosofia de vida. Nunca entrei numa sinagoga, mas sei da profundidade e sabedoria da cabala. Admiro os evangélicos pela sua fé e pelo papel social que exercem nos conglomerados da cidade. Deus é igual para todos, não importa a que religiões pertençam.

Para finalizar, transcrevo uma das inúmeras manifestações escritas que o “santinho” Chico nos delegou: “Vida É o amor existencial. Razão É o amor que pondera. Estudo É o amor que analisa. Ciência É o amor que investiga. Filosofia É o amor que pensa. Religião É o amor que busca a Deus. Verdade É o amor que eterniza. Ideal É o amor que se eleva. Fé É o amor que transcende. Esperança É o amor que sonha. Caridade É o amor que auxilia. Fraternidade É o amor que se expande. Sacrifício É o amor que se esforça. Renúncia É o amor que depura. Simpatia É o amor que sorri. Trabalho É o amor que constrói. Indiferença É o amor que se esconde. Desespero É o amor que se desgoverna. Paixão É o amor que se desequilibra. Ciúme É o amor que se desvaira. Orgulho É o amor que enlouquece. Sensualismo É o amor que se envenena. Finalmente, o ódio, que julgas ser a antítese do amor, não é senão o próprio amor que adoeceu gravemente”.
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LAURA MEDIOLI laura@otempo.com.br
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Fonte:
http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdEdicao=1278&IdColunaEdicao=8399
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