As afeições do corpo e as da alma
Elias Barbosa – 15/03/2009
Vimos, no artigo precedente, duas questões de O Livro dos Espíritos relacionadas com a decepção, a ingratidão e as afeições destruídas, e reservamos para hoje o estudo das “Uniões antipáticas”, esperando que a transcrição das novas perguntas de Allan Kardec e as respectivas respostas dadas pelos Espíritos superiores, através da mediunidade de duas adolescentes, algo de bom possa acrescentar às nossas vidas.
De início, a questão 939: “— Visto que os Espíritos simpáticos são levados a unir-se, como se dá que, entre os Espíritos encarnados, a afeição não esteja, frequentemente, senão de um lado, e que o amor mais sincero seja recebido com indiferença e mesmo repulsa? Como, de outra parte, a afeição mais viva de dois seres pode mudar em antipatia e, algumas vezes, em ódio?
— Não compreendeis, pois, que é uma punição, mas que não é senão passageira. Aliás, quantos não há que creem amar perdidamente, porque não julgam senão sobre as aparências, e quando são obrigados a viver com as pessoas, não tardam a reconhecer que isso não é senão uma admiração material. Não basta estar enamorado de uma pessoa que vos agrada e a quem creiais de belas qualidades; é vivendo realmente com ela que podereis apreciá-la. Quantas também não há dessas uniões que, no início, parecem não dever jamais ser simpáticas, e quando um e outro se conhecem bem e se estudam bem, acabam por se amar com um amor terno e durável, porque repousa sobre a estima! É preciso não esquecer que é o Espírito que ama e não o corpo, e, quando a ilusão material se dissipa, o espírito vê a realidade. Há duas espécies de afeições: a do corpo e a da alma e, frequentemente, se toma uma pela outra. A afeição da alma, quando pura e simpática, é durável; a do corpo é perecível. Eis porque, frequentemente, aqueles que creem se amar, com um amor eterno, se odeiam quando a ilusão termina.”
Passemos à segunda questão, que é acompanhada de uma suplementar:
“940 — A falta de simpatia entre os seres destinados a viver juntos, não é igualmente uma fonte de desgostos tanto mais amarga quando envenena toda a existência?
— Muito amarga, com efeito. Mas é uma dessas infelicidades das quais, frequentemente, sois a primeira causa. Primeiro, são vossas leis que são erradas. Por que crês que Deus te constrange a ficar com aqueles que te descontentam? Aliás, nessas uniões, frequentemente, procurais mais a satisfação do vosso orgulho e da vossa ambição do que a felicidade de uma afeição mútua; suportareis, nesse caso, a consequência dos vossos preconceitos.
— Mas, nesse caso, não há quase sempre uma vítima inocente?
— Sim, e é para ela uma dura expiação; mas a responsabilidade de sua infelicidade recairá sobre aqueles que lhe foram a causa. Se a luz da verdade penetrou sua alma, ela terá sua consolação em sua fé no futuro. De resto, à medida que os preconceitos se enfraquecerem, as causas de suas infelicidades íntimas desaparecerão também.”
(*) clínico geral e psiquiatra
eliasbarbosa34@terra.com.br
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Fonte:
http://www.jmonline.com.br/novo/?noticias,22,ARTICULISTAS,6104
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