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Ateísmo

DEUS EXISTE? NÃO sabemos e não o saberemos antes de morrer, escreve o francês André Comte-Sponville em EI alma del ateísmo. O respeitado autor – “ateu não-dogmático”, por definição própria – é um homem que não pretende saber que Deus não existe, mas simplesmente acredita que não existe.

Num mundo onde as religiões se fortalecem, Comte-Sponville revisa em detalhe – quase com carinho – as alegações a favor da existência de Deus, e conclui que nenhum argumento prova sua existência.

Mas os bilhões de seres humanos que acreditam em Deus estão por acaso equivocados? Eles mesmos não, mas suas razões sim, diz, sem condená-los por isso. Pelo contrário, os defende. A religião é um direito, argumenta, e a fé é útil, até necessária, para enfrentar os fracassos e a dor da vida, a inevitabilidade da morte.

Mas há uma grande diferença entre conhecimento e fé, reitera, e não convém esquecê-la. Quem não distingue entre saber e crer está a um passo do fanatismo religioso, e isso proclama mais a inexistência que a existência de Deus. Que as pessoas se matem por coisas que ignoram ou que não podem provar tende a ser uma prova a favor de que Deus não existe.

A incerteza, entretanto, não deveria se traduzir em niilismo. Comte-Sponville impugna tanto a niilistas, esses “espadachins do nada”, como aos fanáticos religiosos que “pretendem ser anjos mas atuam como tiranos”. Para enfrentar aos que matam em nome de Deus não adianta ser um consumidor descrente que vive somente para sua própria comodidade. Somente pode fazê-lo um crente que
honra a tolerância democrática como parte do amor, ou um ateu devoto de uma espiritualidade sem Deus.

As palavras de Comte-Sponville chegam nas últimas páginas a um tom evangélico. “Não se trata de salvar o eu, mas de liberar-se dele”, porque “o eu não é outra coisa que um conjunto de ilusões que um faz sobre si mesmo”. A vida é dura, mas “o que justifica o amor não é o valor do objeto ou ser amado, mas o amor é
o que dá valor ao que se ama”. Não necessitamos da certeza de Deus para amar o mundo, garante. Não necessitamos de mandamentos para amar o próximo que não nos ama, esse outro plural e indiferente.
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EL ALMA DEL ATEíSMO André Comte.Sponville
Ediciones Paidós Ibérica 2006
-Rodrigo Lara Serrano
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Fonte:
Revista América Economia – Edição 336
Página 63.
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El Alma Del Ateísmo

El retorno de la religión ha alcanzado, estos últimos años, una dimensión espectacular, incluso inquietante. ¿Retorno de la espiritualidad? Ningún problema, es algo de lo que deberíamos congratularnos. ¿Retorno de la fe? Nada que objetar. El problema es el dogmatismo que, a menudo, acaba convirtiéndose en oscurantismo, integrismo y fanatismo. Sin embargo, no se trata de combatir la religión, pues ello supondría equivocarse de adversario. Se trata de reivindicar la tolerancia, la laicidad, la libertad de creer o no creer.

Para el autor de La felicidad, desesperadamente lo esencial, tratándose de la espiritualidad, se resume en tres preguntas: ¿Podemos prescindir de la religión? ¿Existe Dios? ¿En qué consiste la espiritualidad de los ateos?
Comte-Sponville nos explica que lo verdaderamente importante no es Dios, ni la religión, sino la vida espiritual. Que lo fundamental no es la fe en algo cuya existencia desconocemos, sino la fidelidad, que es lo que queda de la fe cuando se ha perdido.

También nos dice que el que una persona se declare atea no significa que carezca de vida espiritual: podemos prescindir de la religión, si así lo deseamos, pero no de la fidelidad al humanismo y del amor hacia nuestros semejantes. Pues es el amor, no la esperanza, lo que nos hace vivir; es la verdad, no la fe, la que nos libera.
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Fonte:
http://www.paidos.com/lib.asp?cod=52108

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